quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Vivendo poesia, com Marcelo Tadeu!

Casa das Rosas. Oficina de criação literária. Cigarros e coincidência, no intervalo:

Ele - Mora onde?

Eu - Campo Limpo.
Ele - Conhece o Martinica?
Eu - Íííí... joguei muito.
Ele - Meu pai está sempre lá.
Eu - Quem é seu pai?
Ele - Pedrão... (Não precisou terminar)
Eu - Pedrão Damasio!

Pequeno grande
mundo. O recém conhecido é filho de uma amigo de longa data. Pedrão Damasio. Dos bons tempos do futebol varzeano.

Consideração imediata. Ficamos amigos. A poesia é nosso papel. A récita nos saraus agora quebra a rotina diária.


Participante do grupo Poetas do Tietê, rapaziada motivada que não deixa palavra assentar.
Vi o vídeo gravado no Museu da Língua Portuguesa, homenagem ao poeta Fernando Pessoa. Arlequinal!

Experiência que se avoluma no palco e nas ruas.

Em sua quarta edição, o Vivendo Poesia alinhavou e-mails com o poeta Marcelo Tadeu...

Pé - Qual seu nome completo? Idade e o estado civil? Bairro onde mora?

Marcelo - Marcelo Tadeu Costa, 39 anos, solteiro, moro no bairro do Jaraguá.

Pé - Qual a profissão? Trabalha com quê? É formado? Estuda?

Marcelo - Economista. Trabalho há 20 anos na área administrativa financeira.

Pé – O time do coração?

Marcelo - Sport Club Corinthians Paulista, é claro...

Pé – Participou de antologias?

Marcelo - Ainda está em fase de elaboração, Antologia “Poetas do Tietê”, se tudo correr bem, realizaremos o lançamento no ano que vem.

Pé – Tem livro publicado?

Marcelo – Sim. Presença Poética. Uma coletânea realizada no Parque da Água Branca. O livro nasceu na oficina de poesia do Prof. Sodré, que acontecia todos os sábados.

Pé – Participa ativamente de algum sarau ou grupo? Como e quando começou o envolvimento, local?

Marcelo - Participo do Grupo Poetas do Tietê. Normalmente, nos encontramos no espaço cultural Tendal da Lapa. Comecei inicialmente participando de uma oficina que eles realizavam todos os sábados – Papoetaria - no próprio Tendal. Até me integrar ao grupo e começar a participar do seu trabalho.Todo mês fazíamos um sarau, onde era escolhido um tema e cada poeta escrevia sobre ele. Os Poetas do Tietê realizaram alguns trabalhos interessantes, como: Exposição de obras de artistas que utilizam o lixo para fazer arte, onde cada poeta escreveu sobre uma obra. Homenagem do Tendal da Lapa à chegada da Primavera. Sarau na inauguração da Biblioteca do Céu Parelheiros. No aniversário de São Paulo fizemos um sarau na Ponte das Bandeiras, ao ar livre. No museu da Língua Portuguesa homenageamos o poeta Fernando Pessoa. Hoje, visitamos saraus pela cidade. Nos encontramos todos os sábados para conversar e escrever poesia, e ainda gravar alguns vídeos que estão postados em nosso site: http://poetasdotiete.blogspot.com/


Pé - Garantir o próprio sustento através das criações literárias, da palavra, venda de livros, é utópico?

Marcelo - Acredito que não é utópico. Mas, na realidade brasileira, isto é um privilégio de poucos. Na poesia, por exemplo, é muito difícil. Já que, ler livros de poesia não é cultura do nosso país. Talvez, alguns, com um pouco de sorte, talento, e muita luta possam conseguir. Mas a batalha é dura. Em minha opinião é nas escolas que poderíamos mudar este panorama, a longo prazo. Poesia pode ser matéria de aula. Torneios poéticos podem ser realizados. Saraus promovidos. E constantes homenagens a autores consagrados. Isto acontecendo, do ensino fundamental até o ensino médio, teremos uma nova geração de poetas e leitores, também. Sei que isto é um sonho...

Pé - Você tem conhecimento e como você avalia os incentivos dados pelos governos em prol da cultura na periferia?

Marcelo - Sabemos que investimento não é tão alto e que deve melhorar. Mas, gostaria de fazer uma observação. Já participei de muitas coisas boas e gratuitas; cursos de teatro, música, e outros. O que eu pude perceber, é que não era muito divulgado e diversas vezes faltava público. Conclusão: o pouco que tem não é aproveitado.

Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida?

Marcelo - Comecei a gostar e a escrever poesias aos15 anos, infelizmente muita poesia eu joguei fora. Mas, apenas anos mais tarde, foi que me interessei em mostrar o meu trabalho. Tudo começou no Parque da Água Branca onde participei, por alguns anos, de uma oficina de poesia promovida pela UBE União Brasileira de Escritores, ministrada pelo professor Sodré. Lá discutíamos poesias de autores conhecidos, e poesias dos próprios participantes. Além de conversarmos sobre diversos assuntos. Política, meio ambiente e outros, que seriam usados posteriormente na criação de novas poesias. Constantemente eram feitos saraus no auditório ou no parque ao ar livre.

Pé - Qual seu autor preferido?

Marcelo - Não tenho um autor preferido. Gosto das boas poesias. Meu conceito de boa poesia é aquela que me faz pensar. Me faz lembrar. E, de alguma forma, mexe comigo. Pode ser de um autor consagrado ou desconhecido.

Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus
espalhados por Sampa?

Marcelo - Vou responder em poucas palavras: É luta de quem ama a poesia e não quer que ela acabe.

Pé - A literatura está a serviço do social? Ela pode influenciar o país, politicamente?

Marcelo - Na literatura temos várias tendências, que abordam diversos assuntos, partindo deste pressuposto. Ela pode influenciar em todos os aspectos da vida, inclusive político.

– Recentemente tivemos a Bienal Internacional dos Livros, comente o fato de não termos nenhum estande dedicado aos escritores e poetas anônimos da chamada literatura marginal?

Marcelo - Também responderei em poucas palavras: É uma luta que começa agora.

Pé – O comentário que fica?

Agradeço a você Pezão e a todo o movimento espalhado por Sampa, que lutam pela poesia. Me perguntaram: porque você escreve poesia? Eu respondi:

Sei que um dia
Não estarei mais aqui
O meu corpo, a minha alma
Estarão em outro lugar
Que não sei onde é
Neste momento
Não quero discutir esse segredo
Apenas quero ressaltar
Que minha memória
Ficará aqui
Para sempre


Marcelo, mano, declama pra gente...

Caça ao Tesouro Perdido

Vai!
É chegada hora
Vá a sua caça
Não subestime o perigo
Saiba que muitos
Ficaram pelo meio do caminho
Outros, perderam suas vidas
Em busca do Tesouro Perdido

Veja aqui
Este é seu mapa
Vá pela Estrada da Inteligência
Logo chegará a Terra dos Mestres
Um povo de sábios
Que transformarão seu medo em coragem
Vão tirar de você, a cegueira de sua juventude
Te ensinarão a arte da guerra
E quando estiver forte
Vai!
Siga em frente

Pegue a Estrada das Pedras
E logo chegará a Terra dos Alucinados
Um povo estranho
Suas plantas os levam para um mundo distante
Com promessa de felicidade
Nada disso é realidade
Não caia em tentação
Siga seu caminho
E apenas diga
Não

Então chegará a Terra dos Amigos de Vidro
Não aceite as suas oferendas
Não importância às suas gentilezas
A intenção é levá-lo ao perigo
E quando precisar de ajuda
Eles se despedaçam
Como se nunca tivessem existido

Mais adiante chegará ao Vale dos Espíritos
Não tenha medo
Eles querem apenas a sua alma
Vencerá este obstáculo pela força de sua fé

E ao final da Estrada das Pedras
Encontrará um outro povoado
A Terra dos Amigos de Verdade
Lá, terá paz
Lhe darão água
Retome sua energia
Recupere sua força
E vá
Rumo a batalha final

Finalmente chegará a Terra dos Guardiões
Ali, bem na montanha está o Tesouro Perdido
Pela sua crença e medo eles não sobem até lá
Mas também não deixam ninguém subir
Se conseguir vencer
Limpe o sangue em suas mãos
Esqueça o passado
Comemore a sua vitória

Mas se perceber que alguma coisa ainda lhe falta
Vá em segredo
Pegue a Estrada das Águas
Até o Vale das Flores
Encontrará um povo simples
De casas de barro
Um povo festeiro, que cultiva a dança
Sua maior riqueza
É a sua alegria
É a sua fé
Então, em parte, encontrará o que quer
E alcançará a plenitude
No coração de uma mulher.

Marcelo Tadeu Costa

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