sábado, 15 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ilusória fúria de um algoz

Bola rolando...

O placar contrário deixa torcida do Tubarão furiosa com atuação do trio de arbitragem.

O Sem Saída vai vencendo por 1 a 0.


Juiz de futebol na várzea requer astúcia. Por melhor que conduza a partida haverá senão.

Neste campo de terra batida, o Tubarão nada. Os torcedores pedem pro time morder. Querem garra. Querem festejar o gol que não acontece.

Enquanto isso, no boteco do Ebrinho, encostado no balcão, um cara conhecido por Quarenta, de estatura mediana e forte, pede maria-mole.

O apelido Quarenta vem da chapa que usa no trabalho. Numa empresa de transporte coletivo.

Num gole, Quarenta sorve o líquido e reclama:

- Porcaria de time!

Nem precisou pedir outra. Meio Quilo já preparava:

- Saindo mais uma mm.

Nisso, ouve-se o coro dos torcedores anunciar a mãe do árbitro.

- Sacanagem! Vou te dizer. Se alguém xingar minha mãezinha? Pode ser o homem do tamanho que for. Eu derrubo.

Numa golada deixou o copo vazio.
Quarenta circula o campo. Aos berros incentiva:

- Vai Tubarão! Mostra que tu é macho!

Se alguém esbraveja materna exclamação contra arbitragem, recrimina:

- Ô meu amigo! Tá certo que o diabo do juiz é safado; mas não bota a mãe no meio!

Um ataque pela direita. A bola é lançada e o jogador avança livre em direção ao gol. É grande a chance do empate!

Inconformismo da torcida do Tubarão. A bandeira é levantada. O apito acusa impedimento.

Bastou. Foi a gota. A grade balançou. Quase duzentas vozes numa só:

- Ladrão f da p.

Não se sabe como ele conseguiu passar. Pequena brecha do alambrado transpôs cabeça. O resto do corpo foi junto. Ensandecido!

Partiu em direção ao árbitro, que tratou de fugir. O Quarenta correndo atrás. Com a mão direita na cintura segurava um volume sob a camisa.

A impressão é de uma arma. Alguns jogadores se lançaram a persegui-los. A maioria pensou em proteção.

O corre-corre deu duas voltas no campo.
Os bandeirinhas sumiram. O árbitro chegou exausto à porta do vestiário fechado.

Sentou desconsolado no degrau. Tremeu zombaria das pessoas aglomeradas no portão de entrada:

- Vai morrer! Vai morrer!

Caiu em pranto. Protegendo o rosto aguardou a fúria do seu algoz.

A maneira como Quarenta chegou. A postura da mão posicionada é de quem vai sacar o revólver...

- Pelo amor de Deus!

Bradou angustiada alma.

Naquele tenso momento toca campainha de um celular.

Quarenta levanta a camisa...

É agora!

Que alívio!

Era o telefone que ele protegia para não cair.


- Alô, mãe! Tô no campo. Mas, assim, já? É que... Tá bom, mãe. Tá bom, eu vou. Eu vou... Oche!

Olhares ansiosos acompanham o sufoco do indefeso juiz. Quarenta apontou o dedo e falou:

- Eu não vou te fazer mal. Vá pra casa e peça perdão à sua mãe por você ser causa da difamação dela. E nunca mais apareça aqui para apitar um jogo do Tubarão.

Dito isso, foi saindo entre fracos aplausos, gritos, falas, e muitas vaias...

- Tanta correria pra nada? Nem sangue, nem porrada?

Decepcionada torcida, então, pro Quarenta, entoou:

- F da p, f da p, f da p...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Episódio 5

Desgastado. Amargo aviso prévio.

Não sabes. Não vou te contar. Nem tenho coragem.

Depois de todo glamour da empresa, meu empenho,

Os objetivos conquistados no derradeiro ano foram em vão.

São Paulo cria e desfaz sonhos num instante.

Entre cobertas, desempregado, quase

Adormecido, sofro tua ausência.

É madrugada e o fio gélido quente

Percorre minhas costas descobertas.

Tênue luz. Um vulto de seios macios

Sobre o meu peito escorre lânguido.

Bálsamo conhecido entorpece

Penetrante galope ao amanhecer incerto.

Acordo só.

A volúpia, como veio, partiu e deixou mostras no lençol.

No tapete, ao lado da cama, íntima peça esquecida ou deixada a propósito?

É praxe da noturna invasora domiciliar?

Cheiro o troféu perfumado e reflito:

A nota de cem reais sob o despertador, no criado mudo, é novidade.

E mistério. Aliás, o que te envolve é novidade e mistério.

Acaso pensa que sou teu prostituto?

Como entrou em casa, se não te dei a chave?

domingo, 9 de janeiro de 2011