quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Farra da bola bunda de fora!

A viúva virgem goza domínio da bola.
Os machões perseguem a periquita.

- Devagar! Paciência, meu bem!
A pala do sutiã.
- Vai chocar a bola, nenem?


O jogo entre Viúvas Virgens e Machões é uma brincadeira realizada no Jd Mituzi, em Taboão da Serra, há vários anos. Terça-feira de carnaval é a data escolhida.

O trabalho de maquiar e preparar as Viúvas tem a colaboração das mulheres da comunidade.

Esse é o Marrom. Idealizador da traveca comunhão.

Já ia o segundo tempo e as Viúvas venciam por 2 a 1. Dondoca é acionada em profundidade.

Da foto, o goleiro saiu pro abafa. Ficou. O tiro, da entrada da área, logrou cena.

Cenas inesperadas.

Hoje, oito meses depois, encontrado o arquivo no cd. Acredito porque vejo.

O goleiro, ao fundo, ri. O sarro pegou geral.
Camarada! Fico imaginando sua cara ao ver essas fotos no blog.
Pai, de quase uma dezena de filhos. Recém casado. Árbitro de futebol varzeano. E peladeiro.
Peladeiro, literalmente!

No pianinho: bumbum, bate bumbum, brucuruntum...
Coisa fofa de mamãe...

Descompostura no gracejo machista.
Marrom? O técnico Marron?!!!
- Aqui temos liberdade, zé mané!

Um golaço arejado...

Comemorado e curtido em festa, no bar do lava-rápido. Boi na brasa sem miséria. Muitas fotos mais e a suspeita: será que o Pezão flagrou a nudez do lance?

Retornando ao meio campo e não satisfeito...

... aplica o selo e consagra a mais irreverente façanha da cidade. O bumbum do Dondon ganha notoriedade e vai ficar nos anais da nossa periférica crônica futebolística varzeana.

Né, Pedrão? Do som, som, som...
A bola, a farra, nossa várzea, porrada de lembranças...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Foto Mania






















AHASVERUS E O GÊNIO


Sabes quem foi Ahasverus?... – o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz!
Eterno viajor de eterna senda...
Espantado a fugir de tenda em tenda
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.
Com a mão vazia – viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe – o grão de areia,
A gota d’água – rejeitou-lhe o mar.


D’Ásia, as florestas lhe negaram sombra,
A savana sem fim negou-lhe alfombra,
O chão negou-lhe o pó!...
Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de um de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pode, entre tantas populaças,
Beijar uma só mão...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração!...


E caminhou!... E as tribos se afastavam

E as mulheres tremendo murmuravam

Com respeito e pavor.
Ai! Fazia tremer do vale a serra
Ele que só pedia sobre a terra
- Silêncio, paz e amor!

No entanto à noite, se o hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.
- “Ele não morre”. A multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
“Ai! mas nunca vivi!”

O gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem tempo de existir.
Invejado! A invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede uma mão de amigo – dão-lhe palmas;
Pede um beijo de amor – e as outras almas
Fogem pasmas de si.
E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: “Ele não morre”
Responde o desgraçado: “Eu não vivi”...
























Castro Alves – SP, outubro de 1868

domingo, 24 de outubro de 2010