A viúva virgem goza domínio da bola. Os machões perseguem a periquita.
- Devagar! Paciência, meu bem! A pala do sutiã. - Vai chocar a bola, nenem?
O jogo entre Viúvas Virgens e Machões é uma brincadeira realizada no Jd Mituzi, em Taboão da Serra, há vários anos. Terça-feira de carnaval é a data escolhida.
O trabalho de maquiar e preparar as Viúvas tem a colaboração das mulheres da comunidade.
Esse é o Marrom. Idealizador da traveca comunhão.
Já ia o segundo tempo e as Viúvas venciam por 2 a 1. Dondoca é acionada em profundidade.
Da foto, o goleiro saiu pro abafa. Ficou. O tiro, da entrada da área, logrou cena.
Cenas inesperadas.
Hoje, oito meses depois, encontrado o arquivo no cd. Acredito porque vejo.
O goleiro, ao fundo, ri. O sarro pegou geral. Camarada! Fico imaginando sua cara ao ver essas fotos no blog. Pai, de quase uma dezena de filhos. Recém casado. Árbitro de futebol varzeano. E peladeiro. Peladeiro, literalmente!
No pianinho: bumbum, bate bumbum, brucuruntum... Coisa fofa de mamãe...
Descompostura no gracejo machista. Marrom? O técnico Marron?!!! - Aqui temos liberdade, zé mané!
Um golaço arejado...
Comemorado e curtido em festa, no bar do lava-rápido. Boi na brasa sem miséria. Muitas fotos mais e a suspeita: será que o Pezão flagrou a nudez do lance?
Retornando ao meio campo e não satisfeito...
... aplica o selo e consagra a mais irreverente façanha da cidade. O bumbum do Dondon ganha notoriedade e vai ficar nos anais da nossa periférica crônica futebolística varzeana.
Né, Pedrão? Do som, som, som... A bola, a farra, nossa várzea, porrada de lembranças...
Sabes quem foi Ahasverus?... – o precito, O mísero Judeu, que tinha escrito Na fronte o selo atroz! Eterno viajor de eterna senda... Espantado a fugir de tenda em tenda Fugindo embalde à vingadora voz! Misérrimo! Correu o mundo inteiro, E no mundo tão grande... o forasteiro Não teve onde... pousar. Com a mão vazia – viu a terra cheia. O deserto negou-lhe – o grão de areia, A gota d’água – rejeitou-lhe o mar.
D’Ásia, as florestas lhe negaram sombra, A savana sem fim negou-lhe alfombra, O chão negou-lhe o pó!... Tabas, serralhos, tendas e solares... Ninguém lhe abriu a porta de um de seus lares E o triste seguiu só.
Viu povos de mil climas, viu mil raças, E não pode, entre tantas populaças, Beijar uma só mão... Desde a virgem do Norte à de Sevilhas Desde a inglesa à crioula das Antilhas Não teve um coração!...
E caminhou!... E as tribos se afastavam E as mulheres tremendo murmuravam Com respeito e pavor. Ai! Fazia tremer do vale a serra Ele que só pedia sobre a terra - Silêncio, paz e amor!
No entanto à noite, se o hebreu passava, Um murmúrio de inveja se elevava, Desde a flor da campina ao colibri. - “Ele não morre”. A multidão dizia... E o precito consigo respondia: “Ai! mas nunca vivi!”
O gênio é como Ahasverus... solitário A marchar, a marchar no itinerário Sem tempo de existir. Invejado! A invejar os invejosos. Vendo a sombra dos álamos frondosos... E sempre a caminhar... sempre a seguir...
Pede uma mão de amigo – dão-lhe palmas; Pede um beijo de amor – e as outras almas Fogem pasmas de si. E o mísero de glória em glória corre... Mas quando a terra diz: “Ele não morre” Responde o desgraçado: “Eu não vivi”...