Fez por merecer, abreviar o encontro dos Poetas da Casa. Em sua quinta edição, o Sarau passa ser mensal. E isso é bombom. Gosto doce na boca. A língua quer palavras. As idéias, cabeça. O versejar acolhe alunos e ex-alunos das oficinas da Casa das Rosas. Cada reencontro nova página floresce. Comandado pela poeta Maria Alice, as tardes domingueiras são prazerosas. A Avenida Paulista, em bocejo de fim de semana, repousa. O éter jardim convida. Somos nós, Haroldo de Campos, chegando. Dê licença em sua concretude. De adentrar alvenaria. De sua areia poder colher. O Sarau dos Poetas da Casa tem sua particularidade. Na primeira parte, os inscritos, na média de 30, declamam poemas de outros poetas. Consagrados ou não. No intervalo de uma hora, um pitaco de 5 minutos de música. Na medida. No retorno, o recital concede poesias próprias. Livres temas. O ambiente teima proceder. Crer no mágico momento do atual movimento poético. Não mais da garoa, sampa é a terra dos saraus. E o Sarau dos Poetas da Casa está inserido em vibrante contexto. De 28 de fevereiro trago as fotos, lembranças e o aviso:
Microfone aberto no último domingo do mês, dia 28/03, a partir das 17 horas. Sejamos bem vindos.
Marco Pezão
Poeta, tradudor e ensaistaHaroldo de Campos, que dá nome à Casa das Rosas, morreu em agosto de 2003, aos 73 anos.
Ao lado do mano Augusto de Campos e do parceiro DécioPignatari, fundou o Grupo Noigandres, de poesia concreta.
O movimento concretista nasceu em 1956 e os moços exploraram a palavra em toda sua amplitude. Forma, som, visualidade, sentido...
Hoje, ele, Haroldo de Campos é nosso anfitrião. E aos Poetas da Casa dedica sua obra, o Circuladô de Fulo...
circuladô de fulô ao deus ao demodará
que deus te guie porque eu não posso guiá
eviva quem já me deu circuladô de fulô
e ainda quem falta me dá soando como
um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num
fim de festafeira no pino do sol a pino
mas para outros não existia aquela música
não podia porque não podia popular se não afina não tintina não tarantina e no
entanto puxada na tripa da miséria
na tripa tensa da mais megera miséria física e
doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma
espalma da mão coração
exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego
cego durando na palma polpa da mão
ao sol enquanto vendem por magros
cruzeiros aquelas cuias onde a boa forma é magreza fina da matéria mofina forma
de fome o barro malcozido no choco do desgosto até que os outros vomitem os
seus pratos plásticos de bordados rebordos
estilo império para a megera miséria
pois isto é popular para os patronos do povo
mas o povo cria mas o povo engenha
mas o povo cavila o povo é o inventalínguas
na malícia da maestria no matreiro da
maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia azeitava o eixo do sol pois
não tinha serventia metáfora pira ou quase o povo é o melhor artífice no seu
martelo galopado no crivo do impossível no vivo do inviável no crisol do incrível do
seu galope martelado e azeite
e eixo do sol mas aquele fio aquele fio aquele
gumefio azucrinado dentedoente como um fio demente plangendo seu
viúvodesacorde num ruivo brasa de uivo esfaima circulado de fulo circulado de
fulôôô porque eu não posso guiá veja este livro material de consumo este aodeus
aedomodarálivro que eu arrumo e desarrumo que eu uno e desuno vagagem de
vagamundo na virada do mundo que deus que demo te guie então porque eu não
posso não ouso não pouso não troço
não toco não troco senão nos meus miúdos
nos meus réis nos meus anéis nos meus dez nos meus menos nos meus nadas
nas minhas penas nas antenas nas galenas nessas ninhas mais pequenas
chamadas de ninharias com veremos verbenas acúcares açucenas ou
circunstâncias somenas tudo isso eu sei não conta tudo isso desaponta não sei
mas ouça como canta louve como conta prove como dança e não peça que eu te
guie não peça despeça que eu te guie desguie que eu te peça promessa que eu te
fie me deixe me esqueça me largue me desarmargue que no fim eu acerto que no
fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me reservo e se verá que estou
certo e se verá que tem jeito e se verá que está feito que pelo torto fiz direito que
quem faz cento se não guio não lamento pois o mestre que me ensinou já não dá
ensinamento de miramundo na miragem do segundo que pelo avesso fui dextro
sendo avesso pelo sestro não guio porque não guio porque não posso guiá e não
me peça memente mas more no meu momento desmande meu mandamento e
não fie desafie e não confie desfie que pelo sim pelo não para mim prefiro o não
no senão do sim ponha o não no im de mim ponha o não o não será tua demão