sábado, 2 de outubro de 2010

Vivendo poesia, com Israel Nascimento

Na Estação Santa Cecília, o Sarau do Metrô completou sua 13ª edição. O convidado, Literatura Suburbana, da Zona Norte, assumiu o palco por hora e meia.

O Cine Magia é quem proporciona o Projeto Encontros. O Mapa da Poesia, através da Poiesis, faz da última terça-feira de cada mês, das 18h às 19h30, um encontro de poetas vindos de vários bairros de nossa sampa. Salamaleque!

Em renovar e reconhecer rostos, sem idades. A identidade que nos aproxima é a poesia! Microfone aberto. Ao menos trinta vozes circularam versos.

Foi um bom sarau. O dia 28 marcou. O Literatura Suburbana resiste e insiste no caminho da palavra. A cultura periférica, mano! De oportunidades iguais pra todos.

Valeu, muito. Nasceu aproximação na conversa com o entrevistado de hoje. O moço bem segurou a onda no comando do sarau. E disse o que pensa no diálogo mantido na ideia dos e-mais.

Hoje, no Vivendo Poesia, a participação de Israel Nascimento:

– Qual seu nome completo? Idade e o estado civil? Bairro onde mora?

Israel - Israel Francisco do Nascimento Neto, 23 anos, solteiro, Brasilândia!

– Qual a profissão? Trabalha com quê? É formado? Estuda?

Israel - Sou educador social, trabalho como co-gestor do projeto Praças da Paz, no Instituto Sou da Paz. Estou em vários estudos independente, cursos ligados a cultura negra e direitos humanos, me preparando e preparando a academia pra quando voltar.

– O time do coração?

Israel - Opa, Timão!

– Participou de antologias. Quais?

Israel - Sim, duas: Antologia Sarau na Brasa e Poetas Suburbanos

– Tem livro publicado?

Israel - São dois livretos: Fechô no Gueto, em 2009, parceria com Carolzinha Teixeira. E Reflexões de uma home Preto”, também em 2009.

– Participa ativamente de algum sarau ou grupo? Como e quando começou o envolvimento, local?

Israel - Participo do projeto Produção Suburbana, do Coletivo Literatura Suburbana. Esse projeto agrega atividades como saraus em escolas e outras intervenções literárias. Publicação de livretos e oficinas de produção literária. O Literatura Suburbana nasceu em maio de 2007 e atua na região da Brasilândia e adjacentes.

– Garantir o próprio sustento através das criações literárias, da palavra, venda de livros, é utópico?

Israel - Jamais. Creio que isso vai depender das entidades. Governos que possuem o recurso. Além do toque empreendedor dos artistas e poetas.

– Você tem conhecimento, e como você avalia os incentivos dados pelos governos em prol da cultura na periferia?

Israel - Sim, ano passado recebemos recurso do programa VAI para o projeto de literatura. Ainda acho que é pouco, pois a dimensão das culturas periféricas no Brasil é enorme. Ainda temos a cultura de colocar as culturas num raking, melhores e piores. Dentro das piores, as melhores. E ai já sabemos: as culturas privilegiadas pelos incentivos são as culturas do entretenimento e ditas clássicas.

- Como a poesia passou a fazer parte da sua vida?

Israel - Foi através do hip-hop, do rap. Eles que me aproximaram da poesia e da leitura.

- Qual seu autor preferido?

Israel - Luis Gama, pelas suas sátiras periféricas abolicionistas.

- Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa?

Israel - Acho fenomenal. Só destaco que temos que expandir, não a nível de número. Mas para alcançamos novos leitores. Os jovens e adolescentes, muitas das vezes, não são alcançados porque os saraus são nos bares (a maior parte). Temos que levar esse movimentos para as escolas e espaços culturais das comunidades.

- A literatura está a serviço do social? Ela pode influenciar o país politicamente?

Israel - A arte sempre prevê o futuro, tanto político como cultural. Porém não podemos dar esse peso aos poetas. Mas pode ser uma postura, a arte é livre!

– Recentemente tivemos a Bienal Internacional dos Livros, comente o fato de não termos nenhum estande dedicado aos escritores e poetas anônimos da chamada literatura marginal?

Israel - É o que eu falei logo acima. Estamos no bolo. Porém, na repartição do bolo, somos sub-cultura. Somos exóticos! Até morrermos ou aparecermos na grande mídia. Esses caras seguem seu padrão. E qual é o nosso? Queremos estar na Bienal Internacional, ou vender um livro a um menino que está aprendendo a ler na 5ª serie? Bem, acho que temos que estar. Queremos também estar. Mas não adianta salvar outro planeta, se o nosso está acabando. Traduzindo. Não adianta vender nossos livros pra estrangeiro ou turista, se nossa comunidade nem sabe ler!


– O comentário que fica?
Israel - Saiba mais sobre nós no literaturasuburbana.blogspot.com

O poeta Israel Nascimento envia seu recado:

Jovens, cabeludos,
Se sentem revolucionários.

Jovens de boina e camisas vermelhas
Tentam ser Ernesto ou Castro.

Jovens,
Batem no peito e gritam revolução...

Jovens, com estrelas vermelhas na testa
Prometem fidelidade à esquerda.

Jovens
Ocupam prédios, condomínios e casas de alvenaria...

Jovens barbudos,
Idolatram Marxs, Engels e Bakunin.

Jovens,
Desenham um A dentro de um círculo.

Jovens,
Ocupam faculdades e auto-cargos.

Jovens
Lotam bares e pagam caro por uma simples brisa.

Jovens são revoltados,
Em suas empanadas e flats planejam a revolução...


Jovens barbudos,
Citam Freire, mas não entendem a troca.


Enquanto alguns jovens levantam as 4 da madrugada,
Enfrentam coletivos lotados,
Gastam o salário no ensino superior privado,

Moram em condições precárias,
Sonham com a amada,


Batalham por educação sem perder a noção que é um cidadão.
De direitos privados e deveres obrigados.

Os outros jovens barbudos
Levam uma “Mont Blanc” nos seus dedos amarelos de maconha,

Comprado no gueto fomentando o extermínio dos jovens negros.
Onde rascunham os planos de revolução,

Isto enquanto deliciam um uísque,
Que pagaria 3 meses do salário do operário pelo qual ele arquiteta a revolução.

Jovem, barbudos, revolucionários, fã de Guevara,
Morador de condomínio fechado, herdeiro da elite, universitário desperdiçador do dinheiro público,


Alcoólatra, financiador do extermínio da população periférica,
Futuro Serra, Maluf, Genuíno Dirceu;

- Não precisamos dos seus conceitos, vazios de vivências.
Olha, seus cabelos e barbas não te aproxima de Guevara, Fidel, Freire e Marxs...

Fique na sua elite pensadora.
E assista o levante de baixo, liderado por jovens assalariados!

E cuidado...
Você é o alvo do nosso golpe de estado!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ditos populares (origem)

A vaca vai pro brejo

Em saciar a sede nos tempos difíceis da seca, o gado segue ao brejo à procura de água.


Desta imagem, então, a sabedoria popular aplicou o dito para expressar quando a situação, entre nós, está feia, problemática.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Participe do Sarau da Biblioteca de São Paulo!

Sarau da Biblioteca de São Paulo

Aos sábados, das 16h às 18 horas
Apresentação: Carlos Galdino
Produção: Projeto Mapa da Poesia - Poiesis
Pq da Juventude - Estação Carandiru do Metrô

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dilema

- Ultrapassa, dona! Está com medo de quê? Dá pra passar uma jamanta! Vou entrar à esquerda! Vai, vai com Deus... Agora não, bichão! Agora é minha vez. Pode buzinar à vontade...

Essa entrada pra pegar o corredor de ônibus é sempre confusa:

- Puxa mais um pouco que vai dar. Beleza!

E vamos no retão, onde, ao menos, um pouco, o seu Tobinha pode descansar o pé no acelerador.

No retrovisor ele dá uma geral nos passageiros e a lotação está quase completa. Reconhecendo semblantes, percebe os que viajam hoje no percurso.

Quantas histórias permeiam sentimentos confusos abrigados no íntimo? Um contêiner em movimento carregando sonhos e dramas.

O principal desafio no amor é conviver com as limitações de cada um, não é não casal vinte? Sentados à esquerda, ambos mantêm os olhos voltados pra janela, pintando nova paisagem além dela.

Em ser resultado de circunstâncias. Circunstâncias que operam, imperam e, cedo ou tarde, pedem respostas.

Desta luta não há como correr. Os rounds são aflitos. O eu deve sair vencedor ou o corpo tomba vencido.

Alexsandro Papel, com a cabeça recostada, tem os olhos fechados. Não dorme. Trilha o fio da amargura, hesita o passo, mas sabe que é preciso prosseguir pra resolver de vez o estranho dilema.

- Que ventre me pariu? Que ventre me pariu? Que ventre me pariu? Não tenho resposta. Quem me pariu? Só uma coisa é certa. Foi uma boceta que me pariu. Cagado é que não fui. Impossível localizá-la? Mãe! Quem, diabos, é minha mãe?

Aproveito o farol vermelho pra dizer que a pergunta sem a devida resposta é o martírio vivido por Alexsandro. Menino bom, bem criado, apesar da ocorrência inédita em seu desenvolvimento, desde a inseminação e gestação.

- Bebê de proveta! Bebê de proveta! Bebê de proveta! Inseminado! Eu não fui trepado. Eu vinguei punhetado! Egoístas. Egoístas é o que eles são. Nunca mais quero vê-los. Não me dão o direito de conhecer meu verdadeiro pai, quanto mais a pobre moça, minha mãe, transformada em barriga de aluguel.

- Dona, a senhora desce essa rua e vira à direita. Nesta mesma calçada. É logo ali. Por nada, até logo!

Seo Tobinha, gentil como sempre, facilitou pra passageira. Mas, quanto ao Alexsandro, deu pra sentir o drama?

Os pais só revelaram a verdade para Alexsandro sobre sua origem quando o jovem ingressou na faculdade.

Não esperavam uma reação tão intempestiva. Em poucos meses, o estresse falou mais alto e Alexsandro largou tudo.

Estudo, roupas, sapatos, livros. Saiu com a vestimenta do corpo e algum dinheiro usado pra alugar o cômodo e cozinha pra morar.

Mesmo distante do sofrível motivo que o transtornara, a mudança de ares nada adiantou. O problema está na cabeça dele.

- Tiveram a pachorra de se masturbarem. Depois, pegaram as porras e colocaram em dois tubos de ensaio. Misturaram os tubos para análise e processo seletivo. Qual espermatozóide ganhou a condição de ir fecundar o óvulo da minha mãe desconhecida? Quem é meu pai?!

O meu próprio nome é o produto de dois pais. Alex e Sandro. Do nome deles nasceu o meu nome: Alexsandro Carvalho Amorim. Carvalho de um. Amorim do outro.

Pedi que fizessem o exame DNA. Eu quero saber ao menos, em definitivo, quem é meu pai? Já que não posso conhecer minha mãe! E qual foi a resposta?

Disseram: você é privilegiado, têm dois pais que são duas mães só pra te paparicar... Tudo, com eles, é brincadeira:

– Olha, Alex, os olhos do Sandrinho. O jeito de olhar é seu.

- Ah, Sandro! Todo mundo diz que a testa dele é sua. Sem tirar nem pôr.

- Ô 125, faz passar esse povo na catraca. Vamos liberar a passagem, gente!

É complexo o caso do amigo. Os pais, homossexuais, decidiram ter, criar e amar um filho, só deles. Conceituados em suas carreiras, um é médico e o outro advogado, utilizaram meios modernos e legais para realizá-lo.

- Se ao menos tivessem guardado o endereço da moça minha mãe. Não importa ser tecnologicamente projetado. Permitissem visitá-la!

Pude sentir o bico do seio dela amamentando minha boca, durante quanto tempo?

Três meses, e então secou o leite? Não posso acreditar que depois, secado o leite, seco estava o amor de minha mãe?

Nunca mais, em nenhum momento, houve por bem pensar em mim? Não creio que exista mãe assim.

Eles, sim, são culpados. O dinheiro tudo compra. O suborno tange o silêncio. Alugaram a barriga dela como se compra um guarda roupas?

Minha doce mãezinha! Pudera te conhecer.

- Ô motorista! Não cabe mais gente aqui não. Vai parar em todo ponto?

- Falta de consideração...

- No fundo do ônibus tem lugar vazio! Tá todo mundo na catraca. Ô 125, parece que você tem mel?

- Tem um homem encalacrado aqui no meio! Dá um jeito de desobstruir a passagem, meu senhor!

Acho que não vai dar, 53! O homem é muito gordo. Não passa na catraca. Vai ter que voltar e descer pela porta dianteira.

- Meu Deus do céu, agora enfezou. Nem pro baixo e nem pra riba.

Se der atenção à conversa de passageiro, chora e ri. Dou meu ouvido, mas entra de um lado e sai do outro.

Nem sempre, é certo. Têm histórias comoventes, doentes, excitantes, que me fazem pensar!

No caso de Alexsandro, a ferida existencial está exposta.

- O dinheiro me proporcionou as melhores roupas. Colégios particulares. Casa na praia. Carros. Conforto. E não posso deixar de reconhecer o carinho e cuidados com meu bem estar.

Sim. Eu gostava daquela mutação diária. O Sandro tornava-se Sandra. O Alex, travestido em ternura aduladora. Confesso, em soberbo amor me deleitei. Os via como duas mães, só minhas. Ora eram dois pais, somente meus.

Sentia-me pleno, seguro sob as asas daquela estranha paixão. Amavam-se sinceramente, abertamente, e não temiam observações maldosas sobre o amor que praticavam.

A casa, costumeiramente, recebia tantos amigos. Amigas zelosas, que, entre prosas e risos, me excitaram a descoberta do sexo.

Havia no quintal muitas plantas, os cachorros, e a paz teceu clima durante minha infância e adolescência.

Mas não posso deixar de observar, e isso magoa. Não passo de uma experiência. O desenvolvimento de um bebê de proveta. Articulado, premeditado friamente.

Um clone satisfazendo desejos, deles. Banais! A revolta fez liga em meu sangue, creio, oriunda do gen materno.

Avancei adiante e olhando pra trás vi a redoma. Compreendi a falsa felicidade na qual estive mergulhado, quanto tempo?

Senti-me marionete, um marionete, marionete, e entendi ser preciso cortar os fios atados àquelas mãos hábeis, manipuladoras, capazes de persuadir as regras de Deus.

Não! Eu serei o que quero ser! Se uma folha em branco significa ser alguma coisa, então sou. Do contrário, eu escrevo minha vida, nela.

Eu! Tomaram ciência? Eu! Enfim, o bebê saiu da proveta! Sofram! Eu sofro também. Se ao menos pudesse saber quem é minha mãe? Qual ventre me pariu?

O trânsito hoje está infernal. Essa orquestra de buzinas não resolve, irrita, e o melhor a fazer é não esquentar a cabeça.

Alexsandro continua preso em sua concha; repassa e examina anseios contraditórios. Chegará ao ponto final ou desce em meio ao fluxo e faz da multidão o habitual esconderijo?

- Quer chegar pra frente, por favor. Tem espaço ali e o senhor não sai detrás de mim?

- Não tenho culpa, moça. Está apertado. Abre caminho que eu passo!

- Isca. Pega!

- Que cheiro esquisito é esse?

- Quem foi o cara de pau que soltou o pum?

- Muuugi boi. Muuugi boi. Muuuugi....

Marco Pezão

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Frase do dia

“A televisão é educativa. Toda vez que alguém liga uma, entro num quarto para ler um livro”

Groucho Marx

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Lance de gol

Cobrança de falta,
lado direito do campo,
do pé canhoto de Igor,
partiu o pombo sem asa,
sobre a barreira postada,
rumo ao desejado horizonte...

O guardião, mãos espalmadas,
qual pássaro voa,
persegue,
mas, evitar não consegue,
que o tiro de gol invada,
das traves, o vértice...
Almejado ninho.

Festejado enlace da bola
Chuá na malha da gaiola

(Estádio Municipal Ver José Feres. CA Taboão da Serra, 2006, 2ª Divisão do Campeonato Paulista)
Marco Pezão

Frase do dia

"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, sempre haverá guerra."

Bob Marley

domingo, 26 de setembro de 2010

Vivendo poesia, com André Dias

O segundo entrevistado da coluna Vivendo poesia é o André Dias.

Também integrante dos Poetas do Tietê, ele tem 37 anos e mora na Lapa.


O André, de poesia intrigante, sempre trás algo novo em sua performance:


- Como a poesia passou a fazer parte da sua vida? Qual autor preferido?

André - Aprendi a gostar de poesia na escola. Na minha ingenuidade, me identifiquei com os ultra-românticos como Alvares de Azevedo e Castro Alves. Acreditava no "endeusamento" da mulher, e achava que poderia mudar o mundo, usando a poesia como arma. Fazia poesia bonitinha. Coisas de moleque. Hoje, meu autor preferido é Glauco Mattoso. Me identifico com o pensamento de usar os versos como vingança contra o mundo.

- Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa?

André - Acho que, no que se refere a quantidade, é bem grande. Mas no que se refere a qualidade, nem tanto. Se não vemos falta de respeito com quem está no palco, vemos panelinhas e favoritismos. É aquela velha história, de se estar preocupado em mostrar o próprio trabalho e não dar atenção a quem está mostrando o seu trabalho. Quanto aos saraus organizados pelo Pezão, não tenho do que reclamar, pois ele dá a mesma atenção e respeito a todos. Mas frequentei outros saraus que, sinceramente, deixaram bastante a desejar.

- A cultura (em nosso caso a poesia) pode levar a uma melhora política e social no país?

André - Se depender da poesia, creio que não. Ela não atinge as pessoas. Não há cultura para a apreciação da poesia. Só a letra de musica (daí a velha polêmica: letra de musica é poesia?) O povo aprecia a "bestialização", o "nonsense". E quem não é de fato, burro, tem preguiça de pensar. Tenho um novo poema, que diz: "Amar da boca pra fora/ É beijar o pé do campeão/ Amar da boca pra dentro/ É chupar os dedos sujos de chão!" Será que todos que ouvem isso, se tocam que é uma critica sobre como é mais fácil você amar quem está por cima, é popular, do que o amor verdadeiro, por quem está por baixo, na pior? O amor ensinado por Jesus Cristo? Não. Provavelmente, não. Só vão ver a escatologia, vão dizer que isso é nojento. Que não é poesia. Pois é. Para mim, é o mais belo poema que já escrevi. Sem falar de Deus, nem de coisas bonitinhas.

- A literatura está a serviço do social?

André - Se o escritor ou poeta, se incomodar com o estado em que se encontra o mundo a sua volta, sim. Como é o meu caso. Mas se o sujeito se concentra mais, em escrever bonito, se concentra mais na forma, esquece de espremer o suco do coração, que é a sinceridade, daí a arte se transforma num simples e fútil trabalho de vaidade.

- O comentário que fica?

André
- Acho que o mais importante, é que o poeta encontre seu estilo. Seja ele mesmo. Nunca procure agradar a ninguém. Ao fazer isso, sua arte se torna mentirosa, e quem tem sensibilidade para captar isso, vai fazê-lo. E nunca, nunca mesmo, o poeta encontrará satisfação. Morrerá tentando ganhar a aprovação alheia. Perto dos quarenta anos, é que caí na real, e a sensação foi de juventude perdida, tanto no que se refere a arte, como na vida no geral.


São Rivotril, benção pro André...

São Rivotril
Que estais no alto das prateleiras,
Socorrei-me!
Pois parece que irei explodir,
Como bomba de São João!
Mas João, nada pode
Contra o demônio do stress
que me possui!
Só o teu suavizante
manto tarja-preta,
Que traz a paz das nuvens

à minha cabeça!
Ontem,
Puta que o pariu!
Hoje?
A dor de existir?
Sumiu! Sumiu! Sumiu!
Santo! Santo! São Rivotril!

André Dia(s,z)?