O Cine Magia é quem proporciona o Projeto Encontros. O Mapa da Poesia, através da Poiesis, faz da última terça-feira de cada mês, das 18h às 19h30, um encontro de poetas vindos de vários bairros de nossa sampa. Salamaleque!
Em renovar e reconhecer rostos, sem idades. A identidade que nos aproxima é a poesia! Microfone aberto. Ao menos trinta vozes circularam versos.
Foi um bom sarau. O dia 28 marcou. O Literatura Suburbana resiste e insiste no caminho da palavra. A cultura periférica, mano! De oportunidades iguais pra todos.
Valeu, muito. Nasceu aproximação na conversa com o entrevistado de hoje. O moço bem segurou a onda no comando do sarau. E disse o que pensa no diálogo mantido na ideia dos e-mais.
Pé – Qual seu nome completo? Idade e o estado civil? Bairro onde mora?
Israel - Israel Francisco do Nascimento Neto, 23 anos, solteiro, Brasilândia!
Pé – Qual a profissão? Trabalha com quê? É formado? Estuda?
Israel - Sou educador social, trabalho como co-gestor do projeto Praças da Paz, no Instituto Sou da Paz. Estou em vários estudos independente, cursos ligados a cultura negra e direitos humanos, me preparando e preparando a academia pra quando voltar.
Pé – O time do coração?
Israel - Opa, Timão!
Pé – Participou de antologias. Quais?
Israel - Sim, duas: Antologia Sarau na Brasa e Poetas Suburbanos
Pé – Tem livro publicado?
Israel - São dois livretos: Fechô no Gueto, em 2009, parceria com Carolzinha Teixeira. E Reflexões de uma home Preto”, também em 2009.
Pé – Participa ativamente de algum sarau ou grupo? Como e quando começou o envolvimento, local?
Israel - Participo do projeto Produção Suburbana, do Coletivo Literatura Suburbana. Esse projeto agrega atividades como saraus em escolas e outras intervenções literárias. Publicação de livretos e oficinas de produção literária. O Literatura Suburbana nasceu em maio de 2007 e atua na região da Brasilândia e adjacentes.
Pé – Garantir o próprio sustento através das criações literárias, da palavra, venda de livros, é utópico?
Israel - Jamais. Creio que isso vai depender das entidades. Governos que possuem o recurso. Além do toque empreendedor dos artistas e poetas.
Pé – Você tem conhecimento, e como você avalia os incentivos dados pelos governos em prol da cultura na periferia?
Israel - Sim, ano passado recebemos recurso do programa VAI para o projeto de literatura. Ainda acho que é pouco, pois a dimensão das culturas periféricas no Brasil é enorme. Ainda temos a cultura de colocar as culturas num raking, melhores e piores. Dentro das piores, as melhores. E ai já sabemos: as culturas privilegiadas pelos incentivos são as culturas do entretenimento e ditas clássicas.
Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida?
Israel - Foi através do hip-hop, do rap. Eles que me aproximaram da poesia e da leitura.
Pé - Qual seu autor preferido?
Israel - Luis Gama, pelas suas sátiras periféricas abolicionistas.
Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa?
Israel - Acho fenomenal. Só destaco que temos que expandir, não a nível de número. Mas para alcançamos novos leitores. Os jovens e adolescentes, muitas das vezes, não são alcançados porque os saraus são nos bares (a maior parte). Temos que levar esse movimentos para as escolas e espaços culturais das comunidades.
Pé - A literatura está a serviço do social? Ela pode influenciar o país politicamente?
Israel - A arte sempre prevê o futuro, tanto político como cultural. Porém não podemos dar esse peso aos poetas. Mas pode ser uma postura, a arte é livre!
Pé – Recentemente tivemos a Bienal Internacional dos Livros, comente o fato de não termos nenhum estande dedicado aos escritores e poetas anônimos da chamada literatura marginal?
Israel - É o que eu falei logo acima. Estamos no bolo. Porém, na repartição do bolo, somos sub-cultura. Somos exóticos! Até morrermos ou aparecermos na grande mídia. Esses caras seguem seu padrão. E qual é o nosso? Queremos estar na Bienal Internacional, ou vender um livro a um menino que está aprendendo a ler na 5ª serie? Bem, acho que temos que estar. Queremos também estar. Mas não adianta salvar outro planeta, se o nosso está acabando. Traduzindo. Não adianta vender nossos livros pra estrangeiro ou turista, se nossa comunidade nem sabe ler!
Pé – O comentário que fica?
Israel - Saiba mais sobre nós no literaturasuburbana.blogspot.com
Em suas empanadas e flats planejam a revolução...
Jovens barbudos,
Citam Freire, mas não entendem a troca.
Enfrentam coletivos lotados,
Gastam o salário no ensino superior privado,
Levam uma “Mont Blanc” nos seus dedos amarelos de maconha,
Que pagaria 3 meses do salário do operário pelo qual ele arquiteta a revolução.
Morador de condomínio fechado, herdeiro da elite, universitário desperdiçador do dinheiro público,
Olha, seus cabelos e barbas não te aproxima de Guevara, Fidel, Freire e Marxs...