domingo, 26 de setembro de 2010

Vivendo poesia, com André Dias

O segundo entrevistado da coluna Vivendo poesia é o André Dias.

Também integrante dos Poetas do Tietê, ele tem 37 anos e mora na Lapa.


O André, de poesia intrigante, sempre trás algo novo em sua performance:


- Como a poesia passou a fazer parte da sua vida? Qual autor preferido?

André - Aprendi a gostar de poesia na escola. Na minha ingenuidade, me identifiquei com os ultra-românticos como Alvares de Azevedo e Castro Alves. Acreditava no "endeusamento" da mulher, e achava que poderia mudar o mundo, usando a poesia como arma. Fazia poesia bonitinha. Coisas de moleque. Hoje, meu autor preferido é Glauco Mattoso. Me identifico com o pensamento de usar os versos como vingança contra o mundo.

- Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa?

André - Acho que, no que se refere a quantidade, é bem grande. Mas no que se refere a qualidade, nem tanto. Se não vemos falta de respeito com quem está no palco, vemos panelinhas e favoritismos. É aquela velha história, de se estar preocupado em mostrar o próprio trabalho e não dar atenção a quem está mostrando o seu trabalho. Quanto aos saraus organizados pelo Pezão, não tenho do que reclamar, pois ele dá a mesma atenção e respeito a todos. Mas frequentei outros saraus que, sinceramente, deixaram bastante a desejar.

- A cultura (em nosso caso a poesia) pode levar a uma melhora política e social no país?

André - Se depender da poesia, creio que não. Ela não atinge as pessoas. Não há cultura para a apreciação da poesia. Só a letra de musica (daí a velha polêmica: letra de musica é poesia?) O povo aprecia a "bestialização", o "nonsense". E quem não é de fato, burro, tem preguiça de pensar. Tenho um novo poema, que diz: "Amar da boca pra fora/ É beijar o pé do campeão/ Amar da boca pra dentro/ É chupar os dedos sujos de chão!" Será que todos que ouvem isso, se tocam que é uma critica sobre como é mais fácil você amar quem está por cima, é popular, do que o amor verdadeiro, por quem está por baixo, na pior? O amor ensinado por Jesus Cristo? Não. Provavelmente, não. Só vão ver a escatologia, vão dizer que isso é nojento. Que não é poesia. Pois é. Para mim, é o mais belo poema que já escrevi. Sem falar de Deus, nem de coisas bonitinhas.

- A literatura está a serviço do social?

André - Se o escritor ou poeta, se incomodar com o estado em que se encontra o mundo a sua volta, sim. Como é o meu caso. Mas se o sujeito se concentra mais, em escrever bonito, se concentra mais na forma, esquece de espremer o suco do coração, que é a sinceridade, daí a arte se transforma num simples e fútil trabalho de vaidade.

- O comentário que fica?

André
- Acho que o mais importante, é que o poeta encontre seu estilo. Seja ele mesmo. Nunca procure agradar a ninguém. Ao fazer isso, sua arte se torna mentirosa, e quem tem sensibilidade para captar isso, vai fazê-lo. E nunca, nunca mesmo, o poeta encontrará satisfação. Morrerá tentando ganhar a aprovação alheia. Perto dos quarenta anos, é que caí na real, e a sensação foi de juventude perdida, tanto no que se refere a arte, como na vida no geral.


São Rivotril, benção pro André...

São Rivotril
Que estais no alto das prateleiras,
Socorrei-me!
Pois parece que irei explodir,
Como bomba de São João!
Mas João, nada pode
Contra o demônio do stress
que me possui!
Só o teu suavizante
manto tarja-preta,
Que traz a paz das nuvens

à minha cabeça!
Ontem,
Puta que o pariu!
Hoje?
A dor de existir?
Sumiu! Sumiu! Sumiu!
Santo! Santo! São Rivotril!

André Dia(s,z)?


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