segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Poetas da Casa abrilhantam o Sarau do Metrô

Toda última terça-feira de cada mês acontece o Sarau do Metrõ, na estação Santa Cecília.

Tarde em busca da noite. Os compromissos do dia regulamentados. Porém, ficou o trauma.

Frente ao eletrônico caixa, dialogo entre teclas. Hum! Botão errado. Dancei, algo me diz!

Otário paga o débito automático! O pior é que conseguiu. Os cartões, que dificuldade.

O dinheiro vivo tomou assento. Acento nos juros. Desconjuro.

Ligo tal número, depois. Gravação suave indica numeração. Vou clicando, de acordo com minha queixa ou necessidade.

Voz humana ao vivo, enfim. Explico. Bobeei. Teclei mal. Faço as contas e pago o pau. Esse é o fato.

Não me queixo e nem posso. Era tecnológica ou caixa. Melhor, caixão! Disfarço. Ouço Ray Charles, agora.

Ontem eu o Valmir tomamos caldo de feijão preto. O Cecílio, em bronze, no erguido pedestal permanece tempos. Não mija no pequeno jardim largo, Cecília, santa! Somos anarquistas!

O corredor nos leva aos trilhos. Duas paredes retratam bambas. Além das catracas, poesia! Ao fundo, passante composição corre variadas estações. Eu chego.

Estamos. Aí, a gente se encaixa. Rasante palco. Fotografias solenes. O microfone aberto.

Após, somos quatro cadeiras ao redor da mesa estática. Lembro. Não estáticos! Falamos e pensamos. Também bebemos.

Da esquerda pra direita o desenrole da história. Uassalam! Culturas, povos, sem raças ou rancor. A raça é humana.

Pensamentos. Encontros é o projeto. Nosso sarau na estação Santa Cecília. Sempre próspera e decadente antiga sampa cidade.

Grafias e sentimentos. Van em ação, não em vão. Na Paulista, os Poetas da Casa das Rosas embarcam. Ultrapassamos semáforos e veias do centro nervoso.

Mesmo destino mensal. Desta feita em 27 de julho de 2010. O urgir dos passageiros. Os presentes. O ronco dos trens partindo, chegando à plataforma.

Pessoas, versos, momentos musicais. A poética é fundamental. O declamo é o grande barato da atualidade.

Maria Alice comanda o recital. Um show à parte, a plateia. Lotadaço o espaço. Forte corrente. Não mente minha disposição.

À distância examino minha memória. Dois dias se passaram e eu continuo blau. Que beleza de sarau!

Tomando como bic o encaracolado fio de cabelo preto, escrevo nas lentes azuis que vestem a menina de outros olhos. Cris e Lid's: Maktub.

Participaram, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade, Roberto Piva, e não lembro os nomes de todos os versadores encarnados na missão.

Aos Poetas da Casa das Rosas oferecemos pétalas e imagens. Viva lembrança deste 11° Sarau do Metrô.

Salamaleque

A curadora Maria Alice comandou o recital...

Do povo buscamos a força. Poema de Agostinho Neto dedicado a todos os participantes...

Não basta que seja dura e justa a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.

Dos que vieram

e conosco se aliaram

muitos traziam sobras no olhar

intenções estranhas.

Para alguns deles a razão da luta

era só ódio; um ódio antigo

centrado e surdo

como uma lança.

Para alguns outros era uma bolsa

bolsa vazia (queriam enchê-la)

queriam enchê-la com coisas sujas

inconfessáveis.

Outros vieram...

Lutar para nós é ver aquilo

que o povo quer realizado.

É ter a terra onde nascemos.

É sermos livres para trabalhar.

É ter pra nós o que criamos

Lutar pra nós é um destino

é uma ponte entre a descrença

e a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos.

Todos concordam - vamos lutar.

Lutar pra quê?

Pra dar vazão ao ódio antigo?

Ou pra ganharmos a liberdade

e ter pra nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos

Quem há de ser o timoneiro?

Ah as tramas que eles teceram!
Ah as lutas que aí travamos!

Nos mantivemos firmes:
no povo buscamos a força e a razão

Inexoravelmente,
como uma onda que ninguém trava, vencemos.

O povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:
Não basta que seja pura e justa a nossa causa

É necessário que a pureza e justiça existam dentro de nós...