quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Atrás das grades conheceu inseparável companheira

O poeta Frederico Barbosa comanda o Sarau da Casa, que recebeu, dia 14 de agosto, dois poetas que causam impacto no meio literário: Antonio Cícero e Luiz Alberto Mendes Junior.

Entrevistados pelo anfitrião Frederico Barbosa: Antonio Cícero veio do Rio de Janeiro nos honrar com sua participação.

E o paulistano Luiz Alberto Mendes Junior, morador de Embu das Artes, engrandeceu e humanizou o desenrole da conversa.

Pluralidade e multiplicidade da poesia contemporânea são objetivos a serem valorizados na Casa, a cada encontro mensal. Desta vez o diálogo foi além.

O caminho de Antonio Cícero, de conceituada carreira. Sua vasta produção literária soma-se às letras de tantas belas composições gravadas por gente bamba do repertório musical.

Declamador por excelência. Quem o ouve sente-se aguçado.

Na outra cadeira, o virtuoso descaminho de Luiz Mendes. Extensa passagem de uma vida, na marra aprendida, e apreendida numa história difícil de se acreditar que exista; transformada em valiosa literatura.

Conheci o Luiz Mendes, alguns anos atrás, num sarau na penitenciária feminina. Causou interesse em nós todos sua jornada de ex-presidiário.

Residente no extinto complexo Carandiru, cuja pena cumprida chegou aos 30 anos. O máximo permitido por lei.

Foi aquele contato... e bola pra frente. Não nos vimos mais. Até meses atrás quando ouvi seu nome numa conversa e busquei aproximação via Internet.

Lembrou do meu apelido, e eu guardava sua fisionomia. No decorrer das correspondências, por conta do trabalho no Mapa da Poesia, fiquei contente por vê-lo incluído na programação do Sarau da Casa.

A plateia reagiu conforme o esperado. Lição de vida, comentou a colega. Eu, até então, pouco sabia do autor. Graças a uma entrevista concedida ao projeto Histórias que Mudam o Mundo, tomo-a com espanto e encanto.

Filme de longa metragem, onde só posso pintar parcas letras. Não concedo detalhes. Infância, adolescência, juventude, adulto prematuro, num espaço curto de tempo ganha e se perde nas ruas em ação permanente.

O mágico mundo da malandragem. Envolvente! O barato! A curtição. Perseguidas paixões. Louca e suicida trajetória da criminalidade sem branco colarinho.

Espianto, drogas, furto, roubo, assalto, a quadrilha, a cultura do crime. É tomar. Tomar de mão grande, bem armada. Tiros trocados. Vários no corpo tomado.

E na batalha diária de quase morto quase vivo, de matar ou morrer, caçado feito bicho do mato, cedo teve a liberdade trancafiada.

Juizado, latrocínio, tombando dois na cadeia, penitenciária. A pena ultrapassando um século. Exatos cento e trinta anos condenado estava o jovem de vinte e tantos espinhos.

O ano puxado na cela forte. O toque do faxina. O cano de esgoto da privada se transformando em telefone.

- Quem tá falando?

- É eu.


- Eu, quem?

- O Luiz.


- Ah! Eu moro em frente de você...

Interferência.

- Porra! Puxaram a descarga.

Apavorante irrequieto diabo em solitária solidão. Mensageiro da palavra noutra. A contação de Os Miseráveis, de Vitor Hugo, via duto, invadindo a madrugada, no duro, fizeram efeito.

Saído do castigo, os livros ofertados preencheram a abstinência criminal. A retomada da caneta. A carta pra mãe. E os olhos devorando múltiplos autores.

E que venham: Hermann Hesse, Sartre, Albert Camus, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos... Agora, a raiva é outra. A de entender todo universo. Fora, e dentro de si.

A bagagem transformante opera ao longo de muitos e muitos apagar de luzes. Da monótona rotina de carcereiros, a ausência completa. Refaz o estudo básico. Preso, descobriu a liberdade do pensamento.

Aprendiz contínuo, mais de nove anos só lendo. Beneficiado por lei presta exame na PUC. Antropofageia. Mamão com açúcar. O primeiro entre cinco mil concorrentes a quatrocentas e cinqüenta vagas.

Terminado o período da ditadura, em 1984 matricula-se na faculdade. Inteligente, culto, vivido, o diferente faz enorme sucesso. Apetite voraz. Minissaias, pernas em fartura.

Cresceu tanto de sentir-se explodir. A sabedoria ou maturidade não estava devidamente alicerçada e a queda foi atroz.

Um dia, ao término das aulas não retorna ao presídio. Imprime fuga e é recapturado em Santos, quarenta e seis dias depois, trocando tiros com a polícia; baleado num flagrante de assalto a banco.

Perdida a oportunidade, o crédito, bate o desespero. No calabouço, a reflexão encontra vasta margem pra sondar.

Não desiste. E os livros, e os livros, e os livros. A leitura criando assento permanente. Se redescobre professor. Alfabetiza, ensina, torna-se encarregado da Escola da Casa de Detenção, com novecentos alunos.

Ressurge ensejo e o seu livro escrito e guardado ganha tona. Memórias de um Sobrevivente é editado e solidifica a base do escritor.

Convidado, escreve coluna na revista Trip.

Luiz Alberto Mendes Junior passou três décadas se descontruindo em construção.


O alvará de soltura, artigo setenta e cinco, chegou.

“Não conseguia acreditar que eu ia embora. Parecia que eu tinha nascido na cadeia e que minha vida toda tinha rolado dentro da cadeia e que não tinha outro futuro pra mim, não tinha mais nada senão cadeia pra mim. Não acreditava mais em liberdade. Não acreditava nem que eu já tivesse estado em liberdade um dia”.

Aos 58 anos, a sede de saber se mantém em expansão; assim como os sonhos colocados em prática.

Além de, Memórias de Um Sobrevivente, estão publicados os livros, Às Cegas, também da Cia das Letras e Tesão e Prazer, da Geração Editorial.

Atualmente, a editora Selo Povo, do Ferréz, está preparando o lançamento do livro de contos: Cela Forte.

Na dramaturgia, a peça A Passagem, segue sendo ensaiada com o ator João Signorelli, tendo, Fernando Bonassi, como diretor, e Guto Lacaz, na arte.

Sua transformação, os escritos, as oficinas literárias, os empreendimentos culturais, as palestras pelo Brasil afora, são conseqüências de sua experiência e dedicação.

Obra, sim, da leitura, a quem tornou inseparável companheira.

Antonio Cícero e Luiz Alberto Mendes Junior relembram particularidades de suas carreiras...

A plateia interagiu aos fatos narrados...

Luiz Alberto Mendes Junior: "Os livros e as mãos daqueles que encaminharam os livros para mim mudaram o sentido da minha vida"...

Antonio Cícero, tudo que um poeta pode querer ser: "Para atrair novos adeptos é fundamental a poesia bem lida, bem declamada"...

O Sarau da Casa acontece no segundo sábado de cada mês. As entrevistas marcam a primeira parte...

Além de suas narrativas, os convidados interpretam poesias próprias...

e declamam poemas trocados...

O poeta Fred conduz a continuidade do recital...

E tem a colaboração de Marco Pezão...

Quando, na segunda parte, o Sarau é aberto a participação do público...

Encerrando as duas horas de programação há sempre uma atração musical...

Na próxima edição do Sarau da Casa, os poetas entrevistados serão: Valmir Jordão e Fabrício Corsaletti. A música fica por conta de Mahlungo e banda...

Dê o ar da graça. Dê voz a um poema!

Nosso encontro está marcado às 20 horas, no sábado, dia 18 de setembro, na Casa das Rosas. O endereço é: Av. Paulista nº 37.
Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Litertura

Venha participar!


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Comentário de Neuza Pommer

Faz tempo que não vejo a Neuza. Saudade das declamações, de sua gentil presença. Tive oportunidade de ensaiarmos os poemas da poeta Lupe Cotrim, creio que em abril, e a breve convivência gerou algo mais que amor. Maior respeito pela pessoa.
Feliz em me deparar com teu versos aqui no blog; homenagem  ao Sarau Poetas da Casa.
Seja sempre benvinda!

"Poeta é quem percebe a beleza escondida


no âmago das coisas


e a expressa em palavras".


Mil parabéns a vocês todos,

Poetas da Casa das Rosas!

Neuza

São Paulo,30 de agosto de 2010.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Comentário do Vagnão, do Sarau Poesia na Brasa

A respeito da matéria neste blog publicada:

"Ó ó ó freguesia! Aqui é Poesia! Na Brasa, mano!

Valeu!

É nóis q tá na ponte, Vagnão!

"Salve, salve mano véio.

Poeta é poeta, mesmo quando em prosa, o bagulho soa poeticamente. Obrigado por semear  idéia junto com a gente, é disso que estamos falando desde do nosso primeiro contato com o Poiesis, o bagulho aqui, como em outra quebradas tem fundamento, tem que saber chegar, os tambores alinhado com as vozes, marcam ancestralidade, não entra no embalo dos nossos versos achando que é brincadeira, eles cortam cabeças clamando justiça, verso trovoada.

Mano maior respeito pelo seu trabalho e sua pessoa, satisfação em conhece-lo, e com certeza continuaremos por muito tempo semeando e comungando a palavra ação.

Sobre a máquina, rapidinho oxála bota outra no seu caminho.

Fica na paz meu irmão e mais uma vez obrigado.

Peço permissão para colocar seu texto em nosso blog.

Axé.

Vagner Souza."
26 de agosto de 2010 15:41
 
O Sarau Poesia na Brasa acontece aos sábados, às 21 hs, no bar do Carlita, na Vila Brasilândia.

Mais informações: brasasarau.blogspot.com