O Mapa da Poesia recebeu a missão da SPEL, São Paulo Estado de Leitores, para organizar 10 saraus no estande da Fundação Volkswagen, nesta 21º Bienal Internacional do Livro, pavilhão do Anhembi, no horário das 19h30 às 21h30.
No prazo entre os dias 12/8 e 22/8 tínhamos a chance de ocupar um espaço "sagrado" com a poética atual, urbana, revestida em sangue novo. Convidamos diversos coletivos literários que hoje recheiam o centro, sua periferia, e Grande São Paulo.Arlequinal!
Em questão de um dia - graças a seriedade dos saraus existentes - preenchemos a grade pedida e ainda ocupamos o horário das 18 horas, em 12/08, para apresentação do Elo da Corrente, de Pirituba, que esteve complementada em seu entusiasmo com a chegada da co-irmã Poesia na Brasa, da Brasilândia.
O roteiro assim foi montado: Elo da Corrente, Poesia na Brasa, Escambo, Politeama, Poetas da Casa das Rosas, Récita Maloqueirista, Pavio da Cultura, Camarilha, Círculo Palmarino, Sarau da Ademar e Encontro de Utopias.
Chegado o dia da abertura e a bordo da Van seguiu a Lids, produtora cultural, para Pirituba. Tornou-se elo da estreia, de uma corrente que nos aprisiona e nos liberta a voz. A festa dos versos!
Ao final de prazerosa noite, onde até índios guaranis declamaram, conversei com poeta Michel, também protagonista dos encontros semanais do Elo da Corrente, às quintas-feiras, às 21h, no bar do Santista. O desenrole foi esse:
O poeta Michel durante apresentação no Sarau Poesia na Brasa, na Brasilândia...
P – Michel, como você vê o movimento poético na nossa periferia?
Michel – Salve Pé! Vejo que o movimento tem trazido uma força muito grande pras comunidades. Todas que hoje estão trabalhando a literatura, numa herança do rap, do samba, de outros movimentos que já existiram. A gente está buscando uma seqüência de grande auto-estima. De mostrar nossa capacidade artística e cultural. De se apropriar dos meios públicos e das produções também, criando editoras. Criando esses espaços que são os bares que até então eram vistos com olhos de preconceito, de doenças como o alcoolismo. A gente está transformando num lugar onde a comunidade pode se encontrar e comungar e celebrar a cultura. Isso a poesia tem possibilitado! Desde a semente que a Cooperifa plantou, com você, inclusive. É uma coisa que floresce em cada bar, hoje, em vários lugares. E pra gente tem sido a maior satisfação participar e somar nesse grande movimento.
Michel – O Elo da Corrente surgiu em 2007. Em junho de 2007 a gente fez o primeiro sarau. As pessoas que organizam o Elo da Corrente participavam da rádio comunitária, da região de Pirituba, a Urbanos FM, que chegou a transmitir alguns saraus. Como a gente já tinha um conhecimento do movimento literário que tava acontecendo na periferia, que não é de hoje, tivemos contato com o trabalho da Cooperifa e criou-se então uma referência muito forte pra trazer isso a nossa comunidade. Produzir e tentar somar cada vez mais ao movimento. A gente taí há 3 anos e realizamos mais 100 encontros. No início o sarau tinha três pessoas recitando, porque a comunidade não tinha entendido bem o que é um sarau. Mas quando viu que é tudo realmente o que a gente já fazia; cantar representar, fazer poesia, usar a tradição oral. Baguio que já vem desde nossos ancestrais. Então, foi aí que, simplesmente só se olhou no espelho. A gente só se olhou no espelho e deu continuidade, né. Não tinha nada novo, embora em momento e circunstâncias diferentes.
P – Só faltava subir no palco...
Michel – Estava faltando só o espaço e estamos ocupando com grande afinco. O dono do bar que é o Santista também é um poeta e participante. Daí surgiram várias possibilidades. Os poetas que já escreviam e não tinham como transmitir sua poesia acharam seu lugar. Outros que passaram a se apropriar da escrita e começaram a produzir seus versos e a levar em outros lugares. O fato mais importante é a integração com outros movimentos. A gente tem um trabalho de trocar e fortalecer todos os saraus que estão na periferia. Desde o Binho, Cooperifa, Ademar, Brasa, que a gente identifica como irmãos. E toda vez que visitamos um outro sarau, a gente se alimenta disso e volta renovado.
Apogeu