sábado, 27 de março de 2010

Peri Peri'feria tem sua Casa da Cultura

O público compareceu e participou do Sarau...

Localizada no Jd. Peri Peri, na rua Junta Mirumoto, 13, a Casa da Cultura do Butantã representa a parte maior dos anseios daqueles que fomentam a arte, em todas suas projeções, pelos bairros da periferia.

Com salas espaçosas e dotada de um belo palco de teatro, ali, sim, é possível fazer da aprendizagem um prazer.

E, com prazer, lá participei do Sarau Lítero-Dramático Musical, tendo como tema a Mulher, em comemoração ao seu Dia Internacional.

Organizado pelo curador Guilherme Bonfim, o evento aconteceu no sábado, 6 de março, reunindo artistas e poetas num show de mais de duas horas.

Gosto de lembrar. Na maioria, somos participantes anônimos. E é muito bom escrever um poema pra depois declamar. É o nosso pensamento que flui situações diversas. Não importa qual o assunto, os aplausos são a graça paga.

E digo peri peri... porque cresci na cercania, e muitas vezes tomei banhos no córrego Pirajussara. Depois de canalizado, é por onde passa a Avenida Eliseu de Almeida.

Sob o acesso à Raposo Tavares, a lagoa Tinta. Ali, a meio século de distância, era a feria, de campinhos, terrenos vazios, casas simples de gente trabalhadora.

Mas vamos ao importante. Na abertura do sarau, a história do 8 de março esteve presente.

E nunca é demais relembrar que, em 1857, na cidade de Nova Iorque, operárias de uma fábrica de tecidos reivindicavam melhores condições de trabalho e foram reprimidas com total violência.

Por protestar pela redução da carga diária de trabalho para dez horas; elas trabalhavam 16 horas...

Para equiparar os salários com os operários homens; elas recebiam somente um terço para executar a mesma função...

Por almejar tratamento digno, tiveram resposta vil.

A fábrica ocupada foi incendiada e 130 tecelãs morreram carbonizadas.

A origem da data aí reside, mas somente em 1975 a ONU oficializou, por decreto, o 8 de março. Tardia homenagem às mulheres, parceiras e guerreiras desse mundão de nós, meu Deus.

O Jd. Peri Peri já não é a feria do meu tempo. Cresceu e tem uma Casa de Cultura. Que legal! (“Que legal!” é antigo).

Do Sarau da Casa da Cultura do Butantã, publico as fotos, guardo lembranças e dedico aos novos colegas o poema “Adolescente”, de Cecília Meireles...

Marco Pezão

As solas dos teus pés.

As solas dos teus pés pintadas de vermelho.

De teus pés correndo no verde chão do parque.

As solas dos teus pés brilhando e desaparecendo

sob a orla dourada da seda azul.

(A moça brincava sozinha,

bailava assim, por entre as árvores...)

As campainhas dos tornozelos, pingos d'água

sobre as flores dos teus pés pintados de vermelho.

As solas dos teus pés, pintadas de vermelho,

duas pétalas rolando para o fim do mundo, ah!

Abaixavam-se, levantavam-se

as solas dos teus pés, pintadas de vermelho.

E no parque, os pavões, também vestidos de sol e céu,

chamavam para os horizontes seus anúncios,

transcendentes e tristes.

As solas dos teus pés correndo para longe,

duas pequenas labaredas.

(A moça brincava sozinha,

ia e vinha assim, com o ar, com a luz...)

Os teus pequenos pés .

O parque.

O mundo.

A solidão.