quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vivendo poesia, com Hugo Paz!

O Mapa da Poesia acarreta andanças. Nelas, as pessoas, razão do trabalho. E foi no Sarau Pavio da Cultura, do escritor Sacolinha, em Suzano, que passamos a nos reconhecer.

Os recitais da região central trouxeram proximidade e o diálogo passou fluir. Na poesia buscamos refúgio, trincheira de entendimento e disparo.

Solano Trintade é o poeta de igual gosto. Acordos e desacordos fazem parte da jornada. O mais importante é que estamos ao lado, lutando a mesma batalha.

Participando do Vivendo poesia, o poeta Hugo Paz...

Pé – Qual seu nome completo? Idade e o estado civil? Bairro onde mora?

Hugo - Hugo Rodrigues Silva Paz, solteiro, 23 anos, bairro Rio Pequeno, Butantã.

Pé - Qual a profissão? Trabalha com quê? É formado? Estuda?

Hugo - Funcionário público. Trabalho num biotério, manuseio de animais para pesquisas cientificas, tais como: ratos, camundongos, suínos, coelhos. Fiz o 1° semestre de biologia e não concluí a faculdade.

Pé - O time do coração?

Hugo - Marah Mends. Meus pais. Literatura e cultura.

Pé – Participou de antologias?

Hugo – Sim, duas em 2009. Antologia dos Poetas Brasileiros, pela Câmara Brasileira Dos Jovens Escritores, do Rio de Janeiro, edição 54. E o projeto literário Delicatta VI, de contos, crônicas e poesias, da Editora Scortecci, em São Paulo.

Pé – Tem livro publicado?

Hugo – Sim. Dois nesse ano de 2010. São eles: Minhas Eternas Poesias, da Editora Scortecci, de 64 páginas. E Poesias Da Verdade, pela Scortecci, com 76 páginas.

Pé - Participa ativamente de algum sarau ou grupo? Como e quando começou o envolvimento, o local?

Hugo - Participo de alguns saraus pela cidade: Sarau da Biblioteca de São Paulo, Sarau do Rap, Sarau da Galeria Olido, Sarau da Casa das Rosas, Sarau Suburbano Convicto, Sarau na Casa Mario de Andrade, Sarau do Metrô, e outros que visito.
Comecei a freqüentar saraus no ano de 2006, quando no meu bairro inaugurou uma ONG com projetos culturais.Treme Terra, com cursos de capoeira, orquestra de berimbau, percussão... Ali começou a rolar o Sarau do Treme Terra. E foi daí que passei a conhecer e frequentar saraus.

Pé - Garantir o próprio sustento através das criações literárias, da palavra, venda de livros, é utópico?

Hugo - Por um lado, sim. Até, porque, se for fazer uma análise de como a nossa sociedade encara a cultura? É meio utópico, sim. Precisa ter muito pulso de ferro para dizer que se vive de literatura neste país.

Pé - Você tem conhecimento e como você avalia os incentivos dados pelos governos em prol da cultura na periferia?

Hugo – Bom, pelo que posso ver, o governo está querendo mostrar suas asas para dizer que está fazendo algo. Mas, muitos não têm oportunidade de publicar e lançar seus projetos e até desistem. De outro lado, o movimento cultural nas periferias está aumentando gradativamente, e isso é muito bom. Quanto às bolsas de incentivo à cultura, é interessante; porém, acho que precisa ser revista em alguns conceitos. No meu ponto de vista, a cultura não tem que ser concorrência e, sim, fortalecimento pessoal e social. Nossa sociedade já concorre com ela mesma. Acho que não precisaria haver isso na cultura. A pessoa que pensa em fazer cultura, ela pensa em melhorar e construir um país melhor. E, enquanto não acabar essa tal concorrência, nunca iremos melhorar o lado cultural.

Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida?

Hugo - A partir do momento que ela me fez enxergar a realidade com outros olhos. Com a palavra e o papel, sua revolta não fica muda. Ela ganha força, argumentos. E os saraus, na sua importância, me deram essa força que eu precisava dentro de mim.

Pé - Qual seu autor preferido?

Hugo - Solano Trindade, pela simplicidade. E, Ferreira Gullar, com seus textos sobre a problemática social. Não tenho muita paciência com poesia melosa. Afinal, temos que encarar a tal realidade de frente. Poesia romântica só pra minha noiva. Às vezes escrevo e publico coisas românticas em homenagem a ela, Silmara, que foi quem me incentivou a escrever.

Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa?

Hugo - Em relação à quantidade é ótimo. Mas, em questão de qualidade, ainda deixa a desejar. Em alguns saraus você não pode fazer lançamento de livro. Outros têm aquela famosa guerrinha de egos. São fatores que chateiam e mostram falta de amadurecimento.

Pé - A literatura está a serviço do social? Ela pode influenciar o país politicamente?

Hugo – Os bambas sabem que ela é influente, e não lutam pra 'fazela' deslanchar. Não é interesse deles. Imagine só, se um político vai incentivar a cultura? Para eles, se o povo não tiver conhecimento, não irá reivindicar seus direitos.
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Pé - Recentemente tivemos a Bienal Internacional dos Livros, comente o fato de não termos nenhum estande dedicado aos escritores e poetas anônimos da chamada literatura marginal?

Hugo - Bem ridículo, né? Quando a tal de Regina Duarte se apresenta, parece um monte de urubus na carniça. Agora, quanto aos escritores e artistas que não estão com a cara na mídia? Nem dão bola. Na verdade, estamos numa falsa democracia! Percebi, que, os saraus na Bienal com linguagem mais critica e realista, as pessoas nem se importavam muito. Agora, quando era aquela coisa mais moderninha, cheia de frescura, enchia o estande.

Pé - O comentário que fica?

Hugo – Agradeço a oportunidade de poder conceder esta entrevista. Eu gostaria que as pessoas que lutam pela arte tivessem mais espaços acessíveis. Comecei a montar um projeto que se intitula Sarau nas Escolas. Consegui uma escola no bairro do Butantã, este ano, e tenho fé que conseguirei outras escolas.
Gostaria de ironizar os tidos intelectuais, sabichões, professores que acham que sabem demais e querem diminuir nosso movimento nas periferias, de linguagem e temática mais pesada. Que essas pessoas viessem presenciar nossa realidade, só para elas terem uma noção do que a gente passa. Mas, graças a Deus, existem os poetas da literatura marginal. Eles tornam a nossa poesia uma grande conquista.

Do livro recém lançado, ficamos com o poema de Hugo Paz:

Peito de aço

No meu peito de aço

Não entra a bala perdida
Do desgosto.
No encosto
Da relva

No calabouço primário.
A secundária vitima
Da desordem conturbante
Dos irrelevantes e palpitantes.

No meu peito de aço
Não entra a bala perdida
Da ironia.

A fazer apologias
Ao desrespeito mutuo
Com o discurso
Da falsa vitória.

No meu peito de aço
Entra a bala certa.

Perfura meu coração enlatado
Contempla-me com louvor
Com amor
Com a palavra da verdade.

No meu peito de aço

Entram as balas da coragem!!!

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