sábado, 25 de setembro de 2010

Ditos populares (origens)

A cobra vai fumar

Vivia-se o governo Getúlio Vargas. Os nazistas tomando Europa e apavorando o Mundo.

O ditador verde-amarelo se manteve no fio da navalha, no aguardo, criando simpatia com os alemães.


O sarro veio no dizer que seria mais difícil o Brasil entrar na 2ª guerra mundial, que uma cobra fumar.


No entanto, o Brasil foi à guerra e elegeu a "cobra fumando" como símbolo da Força Expedicionária Brasileira.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Arma!

Peguei a palavra ARMA e separei suas letras.

Depois, juntando em nova ordem, busquei outros significados...

Arma!

Nos dias de violência idos e vividos, em qualquer ocasião, é terrível substantivo.

Concreto quanto ao estrago que causa.

Não importa se de leve porte.

Quem passou por situação de ter uma arma de fogo apontada para si.

Em circunstância de assalto ou diferente agressão, sabe o temor da bala.

Mesmo que seja perdida.

E quem vive em região de conflito, o que sofre por ser alvo aleatório de arma pesada na linha do combate?

Desnecessário é nomear os membros desta ampla família.

Mas que seja: pedra, canivete, faca, pau, porrete, chicote, canhão, bactérias, e tantas se fazem válidas dependendo o uso e caso.

Uma caneta. A mão que escreve. A língua que fala.

A palavra que denuncia, também oprime.

E, assim pensando, tudo pode ser arma. Do sentimento atroz à bomba nuclear, o que destrói é arma.

Arma! Das letras contidas forma-se de seu início: AR.

Esse que respiramos. Ele que significa o princípio básico da existência humana.

E, nessa averiguação, é o contraponto do efeito mortal acima sugerido.

O ar fica mais leve com tua presença, dizem os enamorados.

Você deu o ar da graça, comenta o lisonjeiro.

Você está com ar de quem não quer nada, replica o decepcionado.

Ar, ar, ar, eu quero ar! Liberdade, dirá o prisioneiro...

E a idéia segue em nova praia.

Dividida e acrescida. MAR! O mar é minha alforria, observa o marujo no cais.

As ondas são servis, amada! Aos teus pés o mar termina...

Aguarde-me, eu sou a maré que avança e inunda a terra sobre a RAMA verdejante que o teu corpo há de fazer florir...

Decomposta a palavra absorvo o dissabor. E não importando a forma transformo o conteúdo.

AR, MAR e RAMA são derivações de igual tronco.

Mais uma cabe. A mais importante, talvez. O verbo transitivo e radiante: AMAR! AMAR! AMAR

Eis o projétil. Eis meu vínculo com a vida!

Amar é a arma de meu constante disparo!

Marco Pezão

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vivendo poesia, com Paulo D'Auria

Paulo D'auria declama no Sarau na Casa Mário de Andrade...

O atual movimento dos versos é festa diária e nos proporciona leque de amizades crescente. Em cada sarau, novos companheiros passam a fazer parte de nosso convívio.

Conheci o entrevistado de hoje no recital dos Poetas da Casa. Dali em diante foram vários encontros e a poesia, claro, sempre a pauta preferida.

O Circulando Versos abre novo arquivo e nele pretendemos mostrar e conhecer um pouco mais dos anônimos poetas, cujo fazer poético é encarado como verdadeira missão.

Com vocês, Paulo Virgilio D'Auria, pertencente ao grupo Poetas do Tietê. Ele tem 44 anos, é casado e mora na Freguesia do Ó.

Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida? Qual autor preferido?

Paulo - Escrevo poesia desde criança. Recentemente encontrei um poema escrito aos 11 anos. A poesia é algo inexplicável que já estava dentro de mim quando nasci. Meu poeta preferido é Drummond.

Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa.

Paulo - Não sei se podemos ver com clareza a importância desse movimento em torno da poesia, talvez isso só possa ser mensurado daqui há muitos anos. De qualquer maneira, esses saraus alargam o foco da poesia contemporânea para uma poesia mais popular, de fácil entendimento, bem diferente da poesia publicada pelas editoras especializadas e da poesia contemporânea estudada nas academias, que é uma poesia intelectualizada demais.

Pé - A cultura (em nosso caso a poesia) pode levar a uma melhora política e social no país?

Paulo - Tenho certeza que sim. O problema do país é o pouco investimento em educação e cultura.O país vive uma crise ética e o brasileiro só vai se livrar dessa mordaça de ignorância com cultura e e educação.

Pé - A literatura está a serviço do social?

Paulo - A literatura tem que viver o seu tempo, ser um testemunho do lugar onde é produzida. A literatura na Suécia talvez não precise estar a serviço do social, mas no Brasil, se não o fizer, estará se omitindo. Quem produz literatura em um país como o Brasil é um privilegiado que teve acesso à cultura, e ele precisa devolver à sociedade um pouco desse privilégio que ela lhe propiciou. Não é uma questão de obrigação, mas de consciência.

Pé - O comentário que fica?

Paulo - Acessem Poetas do Tietê: http://poetasdotiete.blogspot.com

Fiquem com poema de Paulo D'Auria...

Televisão de Cachorro

O menino de rua

Aprendeu a jogar videogame

No computador do supermercado,

Como se um motorista de praça

Num atalho para o corcovado

Pousasse na lua,

Como se um sertanejo

De uma lágrima

Fizesse chuva,

Como se um apaixonado,

De tão enamorado,

Tirando a sorte no realejo,

Ouvisse anjos.

Mas a graça do moleque

Não durou muito, sinto muito,

Pivete, disse o gerente,

Mas isso é brinquedo de gente.

- E eu sou o quê?

- Sei lá quem é você!

Mas esse computador branco,

Limpo e resplandecente

Não é fliperama!

Cadê sua mãe, me chama,

Me chama ela aqui!

- Não tenho mãe, não senhor,

Sou preto, sujo e pobre,

Mas sou mais gente

Que esse computador!

Mais gente que o nobre vendedor!

Nesta altura dos acontecimentos

O segurança entrou na dança

Expulsando o garoto do estabelecimento,

- Circulando, se manda!

Na vitrine, tal qual televisão de cachorro,

Ainda namorou o PC,

Agora, lá vai o moleque subindo o morro,

Como se o taxista acabasse extraviado,

De tanto pranto, o sertanejo terminasse descarnado,

E sozinho, o pobre namorado.

Assim termina o samba

Do menino que só queria ser feliz,

Mas a vida não quis.

(Entrevista via e-mail: as respostas às perguntas e o poema foram enviados por Paulo D'Auria ao blogueiro Marco Pezão)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ai, Ai, Ademar! A sub-prefeitura aí não é séria!

Esse pessoal da poesia é perigoso. Eles traficam palavras, ideias e otimismo...

- Dá licença, Ademar!

- Sacanagem!


- A gente tava lá...


- E tem que engolir conversinha de propaganda oficial.


Então, no domingo, 12, aconteceu o sarau comemorativo aos dois anos do Coletivo da Ademar.


A sub-prefeitura da Cidade Ademar não pôs nenhum. Aliás, impõe dificuldades. Perda de tempo em idas e vindas.


Nem iluminação, cadeiras, mesas, água, banheiro químico. Só enrolação e a recusa em cima da hora.


Não pensem que o evento ia acontecer numa praça ou rua, tal a necessidade básica do pedido.


Pasmem! O converseiro poético aconteceu na quadra poliesportiva de nome Espaço Ecoponto Cupecê!
O local está abandonado. Entregue aos ratos.

Em busca de sede própria e na tentativa de revitalizar o local, mesmo contra todas as adversidades de infraestrutura...

O pessoal da Ademar se dispôs e fez a maior festa da poesia, em toda sua multiplicidade, colorido que durou sete dias direto.


Uma semana com diversas programações.


Sem o menor apoio! A sub não ajuda ninguém na subida. Perderam a chance de contribuir numa coisa legal. Benéfica em todos os sentidos.


As fotos e matéria do dia 12 estão no arquivo: Palavra poder para o povo! Não para esse!


Me assusto. Sempre incompreensível dialeto. Diz que faz e propagandeia. Neste caso, falsas noticias. A começar do título.


Bem, saiu matéria no site da subprefeitura e a politicagem publica o absurdo do surdo. Como se eles tivessem movido ao menos um alfinete.


http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/cidade_ademar/noticias/?p=13594


Abaixo, na íntegra. Leiam e comparem!

Esse é o fato da foto. Do lado de cá os banheiros não apresentam qualquer prenúncio de reforma. As paredes e tetos estão com reboco queimados. Atente ao que a politicagem fala:

Sarau da Ademar passa por Americanópolis no Domingo

"No próximo domingo, (15), o grupo de incentivo a cultura ‘’ Sarau da Ademar’’ vai realizar a sua primeira apresentação no Espaço Ecoponto Cupecê com a parceria da Subprefeitura de Cidade Ademar, Rua Anália Maria de Jesus, 130. O espaço que ainda passa por reformas de vestiários e da quadra já sediou alguns eventos em 2010, todos resultados da integração comunidade/poder público.

O grupo de jovens ‘’Sarau da Ademar’’ completa no próximo mês de setembro 2 anos de existência e de incentivo a cultura nos bairro de Cidade Ademar e Pedreira, e entraram em contato com a Subprefeitura em busca de um novo espaço para trabalhar com a comunidade. Uma vez por mês os amigos se reúnem em um espaço da região e trabalham junto com moradores uma série de oficinas: Teatro, poesia, oficinas de papel reciclado e trabalhos de leitura. Cada apresentação do grupo é única, isso pelo fato de todo mês um tema diferente do mês anterior é apresentado, no mês de agosto o folclore brasileiro será representado no miolo do bairro de Americanópolis as 16h00.


Segundo Lidiane Oliveira Ramos, uma das idealizadoras do projeto: ‘’O passo agora é firmar uma parceria cultural com a Subprefeitura para que possamos utilizar um espaço todo mês, a idéia é interagir mais com o público e criar uma referência na região’’.


A Subprefeitura de Cidade Ademar já investiu muito na questão cultural em 2010, entre exposições artísticas, festas para a comunidade e eventos segmentados, foram mais de 40 as ações realizadas este ano, com a participação de moradores".

Depois da inicial iluminação dos faróis, uma vizinha amiga cedeu um ponto de luz para uma extensão de mais de cem metros. Na raça, fez-se acesa a lâmpada...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cata Verso da Moóca e o Auxílio-Invalidez

O Ivan Ferretti Machado organiza o sarau Cata Verso da Moóca e enviou simpático convite a este blogueiro, e eu repasso a todos os seguidores do nosso Circulando Versos.

O Ivan Ferretti é poeta e contador de causos, sempre explorando veia humoristíca em seus textos e declamações. Aqui publico uma das suas histórias de Minha mulher briga comigo:

"Depois de aposentar-me, fui até o INSS para poder receber meu benefício.

A mulher que me atendeu solicitou minha identidade para verificar minha idade. Chequei meus bolsos e percebi que a tinha deixado em casa.

Disse à mulher que lamentava, mas teria que ir até minha casa e voltar depois. A mulher disse:

- Desabotoe sua camisa.

Então, desabotoei minha camisa deixando exposto meus cabelos crespos prateados. E ela disse:

- Esses cabelos prateado em seu peito é prova suficiente para mim.

E processou meu benefício. Quando cheguei em casa, contei entusiasmado o que ocorrera para minha esposa. E ela disse:

- Por que você não abaixou as calças? Você poderia ter conseguido auxilio-invalidez pro resto da vida também...

Faz uma semana que não converso com ela".

CATA VERSO DA MOÓCA

NO BAIRRO MAIS ROMÂNTICO DE SÃO PAULO
O SARAU MAIS CHARMOSO DA CIDADE

DIA 25 DE SETEMBRO (Último Sábado do Mês)
A PARTIR DAS 15:00 HORAS

O MELHOR DA MPB
E MUITA POESIA PARA ESQUENTAR OS CORAÇÕES

ABERTO A TODOS OS POETAS QUE QUEIRAM PARTICIPAR

LOCAL
NÚCLEO DE TERAPIAS FLOR DE LÓTUS
RUA GUAIMBÉ, 48 – MOÓCA
Altura do número 1300 da Av. Paes de Barros
Ônibus Vila Alpina no Metro Bresser

Atenciosamente

Ivan Ferretti Machado

Aí, o meu amigo Ivan Ferretti participando do Sarau da Casa.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Que flagra!

O poeta e declamador (dos bons) André Luiz Prieto em descontraído momento durante o sarau.

domingo, 19 de setembro de 2010

sábado, 18 de setembro de 2010

Versando liberdade no Sarau da Biblioteca de São Paulo

Implodido o Complexo Carandiru, um novo alicerce fora construído. Moderna, a Biblioteca de São Paulo traduz interatividade. Livros, computadores, cursos, palestras, shows e oficinas ao alcance de todos.

E como não poderia faltar, ao sábados, das 16 às 18 horas, acontece o sarau dos poetas.

Aberto a que tem algo a dizer, o recital recebe diferentes manifestações artisticas.


Ao microfone, o apresentador e versador Galdino. Quem chegar é benvindo e recebido com calorosos aplausos. Ali o anônimo tem vez e voz.


Quem lê não mosca, voa mais alto. Quem escreve vai fundo, não boia no raso. Poesia não é red bull, mas dá asas!


A Biblioteca de São Paulo fica no Pq da Juventude, na avenida Cruzeiro do Sul, na estação Carandiru do Metrô.

De voz a um poema. Compareça!

Aos amigos e poetas que nos brindam sempre com duas horas semanais de fértil companhia, dedico o poema
Última Paisagem, da poeta Lupe Cotrim.

Lupe Cotrim Garaude ou Maria José Cotrim Garaude Gianotti, nasceu em 16 de março de 1933, na capital paulista, onde, aos 17 anos, já estudava literatura, línguas e artes.

Aos 22 anos, em 1955, lança seu primeiro livro de poemas: Raiz Comum.
Bonita, talentosa e avançada pro modelo de mulher da época, em 1961, faz um programa na TV e passa a ser reconhecida publicamente.

Começa a estudar Filosofia na USP em 1963. Sua rebeldia em discussões a aproxima do professor José Arthur Gianotti, com quem se casa um ano depois de conhecê-lo.

Tiveram dois filhos: Lupe Maria Ribeiro Lima e Marco Garaude Giannotti.

Ativa, vivendo o período da ditadura militar, em 1968 é nomeada professora de Estética da Escola de Comunicações e Artes da USP, cujo centro acadêmico, o ECA, leva seu nome.

Conta-se que certa vez sendo chamada de poetisa teria respondido: “Poetisa é mulher de poeta. Eu sou poeta!”

Profunda vida curta. Aos 37 anos, já doente de câncer, veio a falecer em 18 de fevereiro de 1970.

Tão logo após, foi concedido o prêmio Governador do Estado ao seu livro Poemas ao Outro.


Quando eu morrer,

se morrer,

quero um dia de sol,

denso, cintilante,

escorrendo-me pelo corpo

seus dedos quentes.

E quero o vento,

um largo vento dos espaços

que me respire e me arrebate

no seu fôlego

por outros continentes.

(...) quero pegar a vida,

palmo a palmo,

traço a traço,

num dia esfuziante de azul,

com o mar na boca e nos braços.

Quando eu morrer,

se morrer,

eu que renasço a cada momento,

criando íntimos laços

por toda a natureza,

eu que perduro no eterno

da intensidade,

quero morrer assim:

os olhos na distância

do entendimento

e o corpo penetrando na beleza,

passo a passo,

Meu fim transformado em luz

dentro de mim.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Palavra poder para o povo. Não para esse!

A luz que brilha no Sarau da Ademar reflete resistência...

Dois anos de Sarau da Ademar. Festa dos versos. Uma semana de comemorações. Cidade Ademar é o destino. Saímos do Campo Limpo e a distância percorrida bateu hora e meia em dois busos.

Tiramos de letra. Dia 12 de setembro, domingão! No tardar das 17 horas aportamos na quadra poliesportiva situada na rua Druval Pinto Ferreira s/n, esquina da rua Anália Maria de Jesus, na altura do nº 3144 da avenida Cupecê.

Usando o espaço como sede, pela segunda vez, o Sarau da Ademar esteve abrigado anteriormente em dois bares. Em fincar duradoura raiz, agora batalha este solo.

Árdua batalha! Por se tratar de local público, compreensão deveria haver. Idas e vindas para conversar com o subprefeito e atendidas pelo Chefe de Gabinete. Canseira.

Por ignorar sentimentos e anseios alheios, o chefe não doutora nada.

No sarau de agosto, o esculápio liberou cadeiras e mesas e um eletricista que só foi chegar à noite, depois de insistentes chamados.

A luz foi puxada de um ponto em frente, de uma Ong - casa de terceira idade - que não avisada culpou o evento pelo gato feito.

Ontem, por ocasião do 2º aniversário, o homem do gabinete deu costas aos apelos e ratificou o costumeiro “se virem”. Na cabeça dele deve passar: “Cultura? Sarau? Pra que ler, pra que livros? Que pedantismo desse povo!”

O fato é que a dita quadra poliesportiva está um caco. Sem banheiros, invadida! Paredes e teto com reboco queimado. Largada. O gradil tombado.

A cobertura, telhas de zinco, já com diversos pequenos buracos. Duas traves limitam o piso liso em evidente desgaste.

Os meninos do entorno ali praticam eventuais peladas. Não há nada em termos de conservação que caracterize qualquer preocupação do administrador municipal. Muito pelo contrário.

Aliás, toda aquela faixa de área pública que segue no arredor da quadra também está abandonada. Um desmazelo completo.

Quem tem cor age. Coragem dessas meninas. Apesar dos contras, mãos à obra. E retiraram vários sacos de lixos. Não havendo encanamento, o jeito foi trazer água e desinfetante pra fazer a limpeza.

Os poetas foram chegando vindos dos extremos de São Paulo. A alegria do encontro, diante do visto, ganhou força.

A princípio, faróis de dois carros garantiram iluminação. Depois, uma vizinha de boa vontade permitiu extensão de cem metros com bico pra lâmpada e som.

Misto de indignação e revolta. Tudo que o Sarau da Ademar quer é cuidar do local. Não está pedindo dinheiro, nem favor, nem doação. É a comunidade querendo preservar e conquistar o que lhe é de direito.

Memorize! Olha a humildade. Vejam a foto descrita acima. Por falta de espaço condizente, a poesia da Ademar cava e cava. Por falta de uma Casa de Cultura, mas pra que uma Casa de Cultura?

- Esses caras são gozado. Ora! Uma Casa de Cultura!

- Ei! É preciso tomar cuidado. Esse povo da poesia trafica palavra e otimismo.

Qual o quê, cadê ouvidos que escutem e viabilizem o projeto desse coletivo?

Tudo que o Sarau da Ademar quer é fazer cultura. Abrir espaço para quem quiser comungar a palavra, o verso, sua arte, criar uma biblioteca comunitária.

Mas, como resposta, obtém da administração, o vazio. Além de cabide de emprego, pra que serve a subprefeitura da Cidade Ademar e outras tantas empalhadas em Sampa?

O pedido foi: mesa, cadeiras, banheiro químico, iluminação. Para esses quesitos disseram não ter verba. E isso precisa comprar? A prefeitura tem isso a rodo, desocupado.

O que falta é boa vontade. Não arranjaram nenhum. Que seja! Ao menos um ou outro. Mas, não! É NENHUM QUESITO! Me perdoem, mas vão ensacar fumaça.

Não se enganem. Atitudes mesquinhas como essa, não irão arrefecer o ânimo da poesia em movimento.

O Sarau da Ademar, mesmo na penumbra, irradiou luminosidade. A essência do seu perfume é ação e atende por nome carinho. O comando, em sua maioria, é de mulheres manifestas.

Todos os convidados permaneceram fiéis à causa. O escritor Sacolinha emanando letras dos dois novos livros em lançamento.

Chegou o povo da Brasa e uma pá de gente. Carlinhos, Augusto, Otilia... estudantes de jornalismo gravando, fazendo matéria.

O Espírito de Zumbi fechou a roda. A dança, o canto, o folclore, sonhos que nos une.

O recheio somos nós, todos anônimos. E uma coisa é certa: quem lá chegar é bem chegado e o coração não se ausenta mais.

Com os poetas da periferia não tem tempo ruim. Improvisa-se até o ambulante. E a cerveja, o refrigerante, o churrasquinho, e o salgadinho, acompanharam duas horas do recital.

Da Lids, com seu arco e flechas empunhado, me chegou e-mail cheio de reflexão:

“Sabe, ontem, depois que o Espírito de Zumbi foi-se embora, começamos a desmontar, carregar, enrolar todos aqueles fios, levar lá na casa daquela minha amiga.

Quando terminamos sentei, e um pensamento invadiu minha mente com tristeza.


Me senti aflita, pensando. Termos que ter na manga um plano B, um plano C, mas não podia ter acontecido de várias pessoas ficarem esperando ligar luz, esperando o Sarau começar.


Tem horário, divulgamos isso. Me senti imatura, como se nunca tivesse feito Sarau na minha vida.


Sentada, continuei refletindo: A gente é realmente loka. Sem a mínima estrutura. Não temos microfone, um local seguro para fazer nada, nada mesmo.

Somente a vontade de fazer acontecer, doa a quem doer. E dói em nós.


Hoje, com certeza, estamos todas cansadas, quebradas, mas apesar dos pormenores, foi uma tarde/noite maravilhosa. Cada sorriso sincero, cada abraço, cada verso declamado...


Da luta eu não me retiroooooooooo!!!!!


Palavra, poder para o povo.”


Marco Pezão


Os Poetas comentaram:

Camila Caetano (Sarau da Ademar):

“Em relação ao sarau, são dois anos de resistência, de luta, de força, de lágrimas, mas de muita alegria. É prazeroso fazer parte desse movimento, pra gente: de periferia para periferia.

Em relação ao apoio, por vezes fomos solicitar na subprefeitura e já que pagamos todos os impostos porque não temos retorno? Nos somos voluntários desse trabalho. Não pedimos nada para nós. É pra cultura.

Fazemos com o coração, na paixão, por amor. Não queremos nada pra gente. Queremos levar para as pessoas um pouco mais de educação, de sensibilidade. Ampliar o horizonte das crianças da comunidade. Criar oportunidades.

E não temos retorno nenhum. De prefeitura ou de governo. Somos ignoradas a todo instante. Hoje aqui sem luz estamos festejando o Sarau da Ademar e por isso são dois anos de resistência.

Tudo o que fazemos tiramos do nosso bolso, do coletivo”.


Vagner (Poesia na Brasa):

“Hoje aqui no Sarau da Ademar, completando dois anos. E essa postura da subprefeitura de não cumprir com a palavra dela, de mandar luz, de mandar os banheiros. Isso mostra mais uma vez que os caras não querem que a gente faça o que estamos fazendo.

Porque é a primeira vez na história que o pessoal de São Paulo se movimenta por si só. E tão se juntando: norte, sul, leste, oeste. Isso assusta um pouco. A gente tá fazendo poesia, livro, sem perguntar pra ninguém como é que faz e sem pedir autorização.

Acho que os caras não querem que a gente faça. A literatura nunca esteve na nossa mão. Os caras escrevem sobre nós, mas, nós mesmos, nunca. Com exceção de uns poucos, Carolina, Solano Trindade. O movimento da poesia tá num crescendo, tamos questionando geral, e isso assusta um pouco quem está no poder.

Essa conduta de hoje é uma forma de fazer a gente parar. Mas com adversidades a gente está acostumado e não vamos parar por causa disso. A gente sai daqui mais forte. O Sarau da Ademar é coirmã. É tudo periferia. Zona norte ou zona sul dá na mesma. Tamo junto!”

Lígia (Sarau da Ademar):

“Indignação. Frustração. Porque? A gente se vê atrelado. Eles nos prendem. Eles dizem: Vocês não podem pensar. Pessoas que pensam dão trabalho.

A gente não vai dividir conhecimento com vocês. Conhecimento é pra aristocracia. Vocês não podem querer poesia.


Você só tem direito a ônibus lotado. Esgoto a céu aberto. O fedor do pobre.

O pobre tem que viver assim. Lugar limpo e cheiroso só pra burguesia. Pra nós só resto.

Se a gente evoluir quem vai limpar a privada e o chão sujo onde eles pisam?

Valeu Sarau da Ademar pela resistência. Valeu pela fortaleza. A gente vai dar muito trabalho.”

Lids (Sarau da Ademar):

“Então, por um lado eu penso que a gente é doida mesmo. Por outro, cada vez mais entendo como essa coisa da poesia pegou a gente, pegou o coletivo do sarau da Ademar. Porque aos trancos e barrancos a gente dá um jeito e faz com luz, sem luz, com tudo isso.

A princípio a gente ficava mercê do dono do boteco. Então a gente não tinha liberdade para agir.


Agora existe essa quadra que é pública. E, se é pública, super entendo que ela é nossa e pertence à comunidade. E nós somos a comunidade.


A gente fica chateada pra caramba porque não existe apoio. Não existe nada.Tem tanta gente fazendo maldade e outras coisas.


A gente faz sem fins lucrativos. Apenas pelo prazer da poesia. Da literatura. De incentivar a leitura, a escrita. Da amizade. De encontrar novos amigos. De comungar a palavra.


É complicado. É luta. É trabalho de formiguinha, mas no final é satisfatório pra nós. Estamos com o sarau faz dois anos e vamos engatinhando, nem caminhando ainda, porque a gente não conseguiu um local fixo.


Ocupamos essa quadra e daqui a gente não sai. Com luz ou sem luz, apoio ou sem apoio, a gente não sai.


Tive a idéia de mobilizar outros coletivos que também estão nessa luta por espaço pra fazer um ato em frente à subprefeitura.


Hoje nós entendemos que temos força e não vamos desistir. Se a intenção deles é essa, então que nos aguardem”.

Camila Milani (Cooperifa):

Realmente é uma grande alegria porque são dois anos de resistência. E a gente aprendeu com a vida que a poesia salva. Que a cultura salva e se existe algum caminho, esse caminho é a cultura e a poesia. É o abrir de novos horizontes, o despertar.

Essa indignação é porque a gente só pode contar com nos mesmos, além de amigos. A gente ocupou o espaço. Pediu autorização. Fomos na subprefeitura e tivemos apoio e ficou tudo acertado pra gente fazer a festa hoje. Na última hora disseram que não tinha verba pra trazer as cadeiras, as mesas, o banheiro químico, a iluminação.

Mas graças a Deus existe vontade, a fé que move montanhas. E a gente chama povo de longe. É de Suzano, da zona norte, da leste, da sul, tá todo mundo aqui na maior alegria. Tá todo mundo aqui pra comemorar e celebrar dois anos de poesia na quebrada.

Reflexão

Somos tão e somente

A semente que germina

No momento presente

Pulsante agora energia

Somos no mínimo

Tudo quanto ou tanto

... o que pensamos

O que fazemos!

Somos tão e só 'mente'

Responsáveis por nós mesmos

... transformação; atitudes; ideias; estórias mutação

Entre dúvidas vivências

Impossibilitamos realizações

Quanto mais expectativas menor a condição de troca

Entendendo isso

Adquirimos experiências maravilhosas, e conseguimos de fato

Travar relações interessantes com a realidade

As decepções por vezes são inúmeras

Por outras, de modo a equilibrar com acertos

Estamos todos a uma grande distância da naturalidade

A intensidade do amor

É a medida do nosso comprometimento

Com a nossa existência e a do outro

Um espelho

No qual podemos observar

A nossa atuação no mundo.

(As legendas das fotos formam o poema Reflexão, da poeta Lids Ramos)