sábado, 18 de setembro de 2010

Versando liberdade no Sarau da Biblioteca de São Paulo

Implodido o Complexo Carandiru, um novo alicerce fora construído. Moderna, a Biblioteca de São Paulo traduz interatividade. Livros, computadores, cursos, palestras, shows e oficinas ao alcance de todos.

E como não poderia faltar, ao sábados, das 16 às 18 horas, acontece o sarau dos poetas.

Aberto a que tem algo a dizer, o recital recebe diferentes manifestações artisticas.


Ao microfone, o apresentador e versador Galdino. Quem chegar é benvindo e recebido com calorosos aplausos. Ali o anônimo tem vez e voz.


Quem lê não mosca, voa mais alto. Quem escreve vai fundo, não boia no raso. Poesia não é red bull, mas dá asas!


A Biblioteca de São Paulo fica no Pq da Juventude, na avenida Cruzeiro do Sul, na estação Carandiru do Metrô.

De voz a um poema. Compareça!

Aos amigos e poetas que nos brindam sempre com duas horas semanais de fértil companhia, dedico o poema
Última Paisagem, da poeta Lupe Cotrim.

Lupe Cotrim Garaude ou Maria José Cotrim Garaude Gianotti, nasceu em 16 de março de 1933, na capital paulista, onde, aos 17 anos, já estudava literatura, línguas e artes.

Aos 22 anos, em 1955, lança seu primeiro livro de poemas: Raiz Comum.
Bonita, talentosa e avançada pro modelo de mulher da época, em 1961, faz um programa na TV e passa a ser reconhecida publicamente.

Começa a estudar Filosofia na USP em 1963. Sua rebeldia em discussões a aproxima do professor José Arthur Gianotti, com quem se casa um ano depois de conhecê-lo.

Tiveram dois filhos: Lupe Maria Ribeiro Lima e Marco Garaude Giannotti.

Ativa, vivendo o período da ditadura militar, em 1968 é nomeada professora de Estética da Escola de Comunicações e Artes da USP, cujo centro acadêmico, o ECA, leva seu nome.

Conta-se que certa vez sendo chamada de poetisa teria respondido: “Poetisa é mulher de poeta. Eu sou poeta!”

Profunda vida curta. Aos 37 anos, já doente de câncer, veio a falecer em 18 de fevereiro de 1970.

Tão logo após, foi concedido o prêmio Governador do Estado ao seu livro Poemas ao Outro.


Quando eu morrer,

se morrer,

quero um dia de sol,

denso, cintilante,

escorrendo-me pelo corpo

seus dedos quentes.

E quero o vento,

um largo vento dos espaços

que me respire e me arrebate

no seu fôlego

por outros continentes.

(...) quero pegar a vida,

palmo a palmo,

traço a traço,

num dia esfuziante de azul,

com o mar na boca e nos braços.

Quando eu morrer,

se morrer,

eu que renasço a cada momento,

criando íntimos laços

por toda a natureza,

eu que perduro no eterno

da intensidade,

quero morrer assim:

os olhos na distância

do entendimento

e o corpo penetrando na beleza,

passo a passo,

Meu fim transformado em luz

dentro de mim.

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