quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vivendo poesia, com Paulo D'Auria

Paulo D'auria declama no Sarau na Casa Mário de Andrade...

O atual movimento dos versos é festa diária e nos proporciona leque de amizades crescente. Em cada sarau, novos companheiros passam a fazer parte de nosso convívio.

Conheci o entrevistado de hoje no recital dos Poetas da Casa. Dali em diante foram vários encontros e a poesia, claro, sempre a pauta preferida.

O Circulando Versos abre novo arquivo e nele pretendemos mostrar e conhecer um pouco mais dos anônimos poetas, cujo fazer poético é encarado como verdadeira missão.

Com vocês, Paulo Virgilio D'Auria, pertencente ao grupo Poetas do Tietê. Ele tem 44 anos, é casado e mora na Freguesia do Ó.

Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida? Qual autor preferido?

Paulo - Escrevo poesia desde criança. Recentemente encontrei um poema escrito aos 11 anos. A poesia é algo inexplicável que já estava dentro de mim quando nasci. Meu poeta preferido é Drummond.

Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus espalhados por Sampa.

Paulo - Não sei se podemos ver com clareza a importância desse movimento em torno da poesia, talvez isso só possa ser mensurado daqui há muitos anos. De qualquer maneira, esses saraus alargam o foco da poesia contemporânea para uma poesia mais popular, de fácil entendimento, bem diferente da poesia publicada pelas editoras especializadas e da poesia contemporânea estudada nas academias, que é uma poesia intelectualizada demais.

Pé - A cultura (em nosso caso a poesia) pode levar a uma melhora política e social no país?

Paulo - Tenho certeza que sim. O problema do país é o pouco investimento em educação e cultura.O país vive uma crise ética e o brasileiro só vai se livrar dessa mordaça de ignorância com cultura e e educação.

Pé - A literatura está a serviço do social?

Paulo - A literatura tem que viver o seu tempo, ser um testemunho do lugar onde é produzida. A literatura na Suécia talvez não precise estar a serviço do social, mas no Brasil, se não o fizer, estará se omitindo. Quem produz literatura em um país como o Brasil é um privilegiado que teve acesso à cultura, e ele precisa devolver à sociedade um pouco desse privilégio que ela lhe propiciou. Não é uma questão de obrigação, mas de consciência.

Pé - O comentário que fica?

Paulo - Acessem Poetas do Tietê: http://poetasdotiete.blogspot.com

Fiquem com poema de Paulo D'Auria...

Televisão de Cachorro

O menino de rua

Aprendeu a jogar videogame

No computador do supermercado,

Como se um motorista de praça

Num atalho para o corcovado

Pousasse na lua,

Como se um sertanejo

De uma lágrima

Fizesse chuva,

Como se um apaixonado,

De tão enamorado,

Tirando a sorte no realejo,

Ouvisse anjos.

Mas a graça do moleque

Não durou muito, sinto muito,

Pivete, disse o gerente,

Mas isso é brinquedo de gente.

- E eu sou o quê?

- Sei lá quem é você!

Mas esse computador branco,

Limpo e resplandecente

Não é fliperama!

Cadê sua mãe, me chama,

Me chama ela aqui!

- Não tenho mãe, não senhor,

Sou preto, sujo e pobre,

Mas sou mais gente

Que esse computador!

Mais gente que o nobre vendedor!

Nesta altura dos acontecimentos

O segurança entrou na dança

Expulsando o garoto do estabelecimento,

- Circulando, se manda!

Na vitrine, tal qual televisão de cachorro,

Ainda namorou o PC,

Agora, lá vai o moleque subindo o morro,

Como se o taxista acabasse extraviado,

De tanto pranto, o sertanejo terminasse descarnado,

E sozinho, o pobre namorado.

Assim termina o samba

Do menino que só queria ser feliz,

Mas a vida não quis.

(Entrevista via e-mail: as respostas às perguntas e o poema foram enviados por Paulo D'Auria ao blogueiro Marco Pezão)

Um comentário:

  1. Muito boa essa iniciativa de mostrar um pouco sobre os poetas Internacionalmente desconhecidos da cidade de Sampa.

    Parabéns Pezão! Parabéns Paulão!

    abraço!

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