
Pé - Qual seu nome completo? Idade e o estado civil? Bairro onde mora?
Augusto - meu nome é augusto cerqueira neto, tenho 32 anos, apaixonado e moro na piraporinha.
Pé - Qual a profissão? Trabalha? É formado? Estuda?
Augusto - sempre trabalhei atrás de balcão, vendendo coisas, mas agora não estou trabalhando, não.
estudei até o ensino médio e parei. ou seja: vagabundo nato!
Pé - O time do coração?
Augusto - simpatizo com o corinthias.
Pé - Participou de antologias?
Augusto - sim. participei do rastilho da pólvora, pelas periferias do brasil e d´um segredo no céu da boca.
Pé - Tem livro publicado?
Augusto - ainda não.
Pé - Participa ativamente de algum sarau ou grupo? Como e quando começou
o envolvimento, local?
Augusto - basicamente estou sempre nos saraus que acontecem na zona sul. a cooperifa é do lado da minha casa, então é de lei eu estar lá nas quartas. adoro ir n´ademar, na fundão e no binho também. lembro a primeira vez que eu fui em um sarau, levado pela minha irmã. foi logo na cooperifa. era 2003. nesse dia mesmo recitei 'geni e o zepelim'. o povo gostou e desde então estou por ai lendo poesias minha e dos outros.
Pé - Garantir o próprio sustento através das criações literárias, da palavra,
venda de livros, é utópico?
Augusto - certa vez vi o marçal aquino dizer que tem uma igreja com dois mil fiéis, que é a quantidade de livros que ele vende em cada lançamento.
para um autor do cacife dele, acho pouco. o leitor brasileiro se deixa levar pela lista dos dez mais da veja e muitas vezes desconhece os autores nacionais. essa é a realidade.
eu acredito piamente que além de textos e poesias, estamos criando, sim um mercado paralelo na periferia onde o livro feito com apoio ou independente são consumidos pelos amigos e por quem frequenta os saraus. daí a garantir o próprio sustento, vai do talento. mas não acredito que seja utopia.
Pé - Você tem conhecimento e como você avalia os incentivos dados pelos
governos em prol da cultura na periferia?
Augusto - não tenho muito conhecimento do processo burocrático para conseguir um apoio do governo na produção artística, mas conheço muita gente que tá correndo atrás e fazendo coisas maravilhosas com essa grana ai. vide o livro da brasa e o curta saraus.
acho super valido nos organizarmos para cada vez mais trazer essa moeda pra cá, se não vai sobrar é pros consagrados mesmo.
Pé - Como a poesia passou a fazer parte da sua vida?
Augusto - a poesia entrou na minha vida através das musicas que minha mãe cantava.
ela me ensinou a gostar de roberto carlos (um dos grandes poetas vivos. rs).
aprendi a ler muito cedo também. lia aquela coleção 'para gostar de ler' onde fui percebendo as diferentes formas de textos.
e a poesia sempre foi a minha preferida.
escrevia para as namoradinhas da sala, nos aniversários das tias ou quando alguma coisa me sensibilizava.
Pé - Qual seu autor preferido?
Augusto - um só? rs. quando leio esses dois estou perto do céu: dostoiévski e buckowski
Pé - Como você vê o atual movimento poético? A quantidade de saraus
espalhados por Sampa?
Augusto - vejo com muito entusiasmo.
é maravilhoso você saber que, em qualquer dia da semana você pode ouvir e ser poesia nessa cidade concretada.
Pé - A literatura está a serviço do social? Ela pode influenciar o país
politicamente?
Augusto - a literatura consumida hoje em são paulo, não esta a serviço do social, mas vejo essa tendência em muitos textos da galera que vai nos saraus da periferia.
acho meio complicado falar pelos outros em literatura. escrever é uma atividade extremamente solitária.
o brasileiro sendo altamente influenciavel, pode vir a descobrir esse nicho da 'literatura social' que esta se formando e, ai sim, criar juízo e parar de votar no PSDB. rs
Pé - Recentemente tivemos a Bienal Internacional dos Livros, comente o fato
de não termos nenhum estande dedicado aos escritores e poetas anônimos
da chamada literatura marginal?
Augusto - o fato é esse: o livro no brasil é visto como entretenimento e não como agente transformador.
acredito que nós, periféricos, traremos essa visibilidade para o "objeto" livro e só então participaremos de um evento desse porte.
mas isso também não me chateia. trabalhei nas ultimas duas bienais e aquilo lá parece esteira de aeroporto: só tem mala!
temos é que organizar os nossos próprios eventos. o mutcho, lá do jd.helga, está organizando o 'festival desgramado de cinema'.
isso é legal. o caminho é por ai.
Pé - O comentário que fica?
Augusto - caros queridos; escrevam suas impressões de mundo antes de ir pra cama. ele se mostrara melhor para vocês.
e visitem o meu blog de vez em quando, pois eu mesmo só vou la nessa periodicidade. kkkkkkkkkkkkkk
força na piruca!

haviam seis homens do hindustão,
inclinados muito ao saber,
que foram ver um elefante
mesmo sem a faculdade de ver.
queriam apenas com a observação
suas mentes satisfazer.
um,chegando ao elefante,
contra a lateral se bateu.
tateando seu flanco largo
disse como em apogeu:
"sem mistério, o elefante
é um muro que alguem ergueu.
o segundo , tocou a presa
e disse com confiança:
"redondo, liso e afiado...
poderosa é a semelhança
que o prodigioso elefante
tem com a esguia lança.
o terceiro foi ao elefante
e logo fez sua manobra.
pegou a tromba do animal
e disse com certeza de sobra:
"eu falo só o que vejo;
o elefante parece uma cobra."
o quarto tocou avidamente
um pouco acima do joelho.
"esse maravilhoso bicho,
vejo claro como um espelho...
é sabido que o elefante
com uma arvore faz parelho."
ao quinto, coube a orelha.
ele disse:"até de pileque,
eu nunca que negaria,
pro idoso ou pro moleque,
que o maravilhoso elefante
se parece com um leque.
o sexto se preciptou
a tatear o elefante.
pegando no rabo do bicho
disse no mesmo insatante:
"posso ver que essa fera
é parecida com um barbante."
os seis cegos do hindustão
criaram um grande enfado.
cada um com uma "visão",
estavam totalmente errados
e ao mesmo tempo estavam certo
naquilo que tinha notado
Augusto no "viver poesia" dos Anjos. Muito bom saber dos poetas, o que pensam, o que fazem, como vivem.Como vivem os poetas, o que fazem para sobreviver, afinal se vivo estar tem que se movimentar e pra isso tem que comer, beber, foder...foder é por minha conta.
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