terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Naná ninguém vai naná!

O busão na Dutra. 44 poetas bordo. Sampa no retrovisor. Bay Bela Vista. Treze de Maio. Partida e retorno. Oxalá permita.

Naná ninguém vai naná amanheceu serra. Baixada fluminense. Baia da Guanabara. Mortas águas. Socorro!

GPS criticado. Sarro. Ramos na expectativa. SESC abrigo. Elegância no atendimento. Café da manhã. Reconhecimento local. Cacique. Imperatriz Leopoldinense. Um calor danado.

Suadouro. Piscina pra quem pode. Barraca da Célia cerveja várias.

Almoço farto. Naná ninguém vai naná. Vem a tarde. Morro do Alemão! O sarau pede licença pra chegar!

A ocupação. Nossas dúvidas. Povo. Soldados. Patrulhas. Quem chega trazendo versos estranhos? O pacífico teleférico na linha circula.

Temores. Igual desconfiança. Mesma alvenaria. Tijolo tijolo. Massa mole. Dura realidade migra e acrescenta quartos até onde alcança a vista.

Pro excedente muita gente se obriga ir. Lá é comunidade. Aqui é periferia.

Naná ninguém vai naná! Rio de Janeiro! O bonde dos poetas trafega conhecidas novidades. Morro Santa Tereza. Arborizada Oriente. Tá ficando quente! Chegamos à escadaria.

Declive acentuado. Degraus armados. Tá ficando quente!

Adicionar imagemO boxixo. Atmosfera. Disformes construções cercados. A broooonca!

- Pezão aqui não pode fotografar. Aqui nóis é largatixa.

Impressiona. Não é tv. Vê? Mesma pobreza. Mesmas biroscas. Mesma desigualdade.

Imagens permitidas. Os poetas pedem licença pra chegar!

Num beco de poucas saídas, os trovadores traficam poesia. Tambores em brasa. A estranheza. Quem são esses?

Olho no olho. Atitude. Do fundão do meu coração... fica com o boné, parceiro! Bolo compartilhado. Salsicha empanada.

Tem banheiro? Não! Um sorvete, por favor. Gelado? O fuzil sobre o joelho do menino do Rio mira longo alcance.

Olhares revólveres. A banca. Cabreiragem. Ladeira não permite fallete nada. Respirar devagar. Medir passos. Um a um. Avançar e subir longos íngremes minutos.

Naná ninguém vai naná. Alívio. O buso recorta e estreita direção ao Morro dos Agudos. Nova Iguaçu. Grande Rio. Uma hora distante.

Nos achamos no Enraizados. Ajeitado palco. Microfone. O versejar do rap é familiar. Declamar e pernoitar no espaço Preto Góes.

Ferve imaginação. O pavor virou fumaça. Churrasco. O Augusto rouco. Sem voz. Deus conserve assim amanhã de manhã.

Improvisado banho. Cada qual estendeu sua bruma. O chão. Cinco horas da matina ainda embala naná ninguém vai naná.

Abacaxis na feira domingueira. Nada nos diferencia. Rostos e sotaques. A padaria sob calor. Improvisamos água. Vodca. Assembléia. Do questionamento bebemos.

Sorve o divisor. Longe Cristo redentor. Ponte Rio Niterói liga. Todos são negros. Todos são brancos. Meio negros meio brancos. A praia é mais extensa, Ipanema!

Penso na tal garota. Mergulho na onda. Tombo. Quarenta graus. Um real a chuveirada:
- Ô alemão! Você é muito gordo. Tua ducha é mais cara, cara!


Do mel ao Borel. Pão de Açúcar avisto. Ônibus ao pé planta. Kombis serpenteiam encostas. Rampa rompe princípios, precipícios...

No topo, a Chácara Cantinho do Céu. Olha o nome! Olha a paisagem. Que ares são esses? Altíssima visão geográfica. Iluminada. Toda maravilhosa. Agora entendo alcunha cidade.

Recepção. Calor humano. Galinhada esperta. Soberba laje. Degusto doce. Inveja dos bacanas abaixo olhando russas montanhas. O pacificador tem olhos. Olhos imobiliários.

Paulistano vil. Não viu porra nenhuma.

Seu Gabeira, seu Gabeira. Poeta. Declamador. Acolhedor. Na Igreja Velha nos recepcionou com o Sarau Rajada Poética...

... Não é essa guerra toda. A guerra é do governo. De seus interesses...

O barco é o mesmo. Pátio aglomerado. Convés. Poetas remam versos. Literatura não afasta. Une. Perifericamente falando.

Quase meia-noite. Crianças empinam pipa e jogam futebol no campinho iluminado. A liberdade está no asfalto?

Ao lado, quartel de três soldados garantem pacificação.

Uma voz interpela: ampliar cultura é trabalho de cada um. O incentivo começa em casa. Sem corrente nem mordaça.

Dança lindo rindo lágrimas em roda. Somos. É nóis! Poesia não é had-bull, mas dá asas!

Os escritores, Julio Ludemir, do Rio, e Alessandro Buzo, na ponte onde atravessamos.

Poesia na Brasa, Brasilândia. Elo da Corrente, Pirituba. Poetas do Tietê. Cidade Ademar, Vila Fundão. Suburbano Convicto, de São Miguel Paulista. O Sarau do Binho, de Campo Limpo.

E diante dos desafios,
Cultura é o que se planta dá!
Sabemos,
Nanááááá ninguém vai nanáááááááá!



Agradecimentos ao Sesc. Movimento Enraizados. Secretário de Cultura de Nova Iguaçu. Ao Fernando, da Vila Fundão, pela ideia. Alessandro Buzo e Julio Ludemir por armarem o meio campo. Ao Mapa da Poesia/Poiesis por tornar possível a sessão do ônibus.

Partimos de São Paulo, Bixiga, na madrugada de 18/12. Os poetas declamaram em saraus no Morro do Alemão, Beco da Comunidade Fallet, Enraizados e Chácara Cantinho do Céu, no Boréu. Chegamos em Sampa na manhã do dia 21/12.

A todos os participantes e colaboradores no Rio de Janeiro, o nosso abraço.

Marco Pezão e Lids Ramos